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O curso da história está intimamente ligado ao debate das ideias, às artes e à cultura, e aos dinamismos sociais que estas dimensões antecipam e produzem.
A política não vive sem a cultura que a rodeia - mas é à política que cabe preservar e promover os valores, não só da liberdade, mas da fraternidade e da coesão social.
Os tempos que vivemos - que conjugam a transição digital e choques tecnológicos intensos com um declínio das democracias e a emergência de populismos excludentes - são marcados por radicalismos e polarizações que ameaçam as comunidades e aos quais os políticos eleitos têm de dar resposta.
As autarquias devem assumir um papel essencial na construção de comunidades fortes, capazes de enfrentar os desafios do presente e do futuro.
Num Mundo cada vez mais fragmentado e individualista, é urgente que os municípios apostem na construção de comunidades resilientes, coesas e preparadas para lidar com antagonismos sociais (de que a reação aos imigrantes é um exemplo) e com o impacto das novas tecnologias nas atividades humanas.
A imensa solidão gerada no interior da população mais conectada de sempre é não só uma ameaça à saúde pública e à coesão social: é uma questão política - uma questão política que os autarcas devem colocar no topo das suas prioridades.
O poder local democrático iniciou em Portugal, em 1976, um ciclo de lançamento de obras num país em que estava quase tudo por fazer.
Na passagem para o século XXI, afirmou-se uma segunda geração de políticas autárquicas concentradas na qualificação das comunidades, na atração de atividade económica, de emprego, e na promoção e divulgação cultural.
No período em que o país celebra os 50 anos do 25 de Abril, o poder local deve traçar uma nova fronteira para a sua ação.
Deve concentrar-se em promover a qualidade das relações sociais, em construir comunidades resilientes. Depois do ciclo das infraestruturas, depois do ciclo dos edifícios físicos, a nova fronteira dos municípios deve ser a construção de “edifícios humanos” coesos e felizes em cada comunidade, dando um uso inspirado a essa vantagem política extraordinária que é a proximidade.
As políticas de proximidade são o melhor antídoto para a fragmentação social e para as dificuldades de diálogo. A proximidade promove a inclusão, as dinâmicas intergeracionais, o pluralismo, o debate saudável e o respeito pelas diferenças. Incentiva a participação cívica e a construção de consensos. A proximidade mata a desinformação, o sectarismo, a intolerância.
Voltando ao início, a cultura, o acesso às artes, a educação para a cidadania, a formação tecnológica, o debate aberto e o respeito pelas diferenças são os tecidos imprescindíveis aos novos edifícios humanos que é necessário construir.
Aos políticos locais cabe garantir, nesta nova fronteira, que não faltará o cimento do pluralismo e da inclusão.