As autoridades da saúde continuam a não conseguir escrever alertas sem erros de português, provavelmente devido a um problema muito complicado de resolver que qualquer aspirante a programador esclarece em cinco minutos, mas seguem muito ativas nos conselhos aos portugueses, emitindo recomendações com uma cadência apreciável.
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Cautelas e canja de galinha nunca fizeram mal ninguém e a estes avisos aplica-se o mesmo (só os erros ortográficos são dispensáveis), pelo que o único problema reside na dificuldade em aplicá-los à vida real.
Ontem, por exemplo, a dica do dia sugeria aos consumidores planear e antecipar as compras, evitando as horas de ponta. Efetivamente, existirá quem há décadas faça questão de embrulhar presentes com um ano de antecedência, mas na generalidade das famílias não é assim que acontece. Umas por estarem à espera do subsídio de Natal para irem às compras, outras pelo simples desejo de ver as luzes e os enfeites próprios da quadra. Os tempos não são nada dados a apertos e as recomendações têm tanto de útil como de óbvio, mas quem empurra milhares de portugueses para as multidões são, por vezes, as determinações do Governo e da Direção-Geral da Saúde.
Todos os anos há filas de consumismo nas zonas comerciais. E como já costuma ser assim, temo que em 2020 seja pior, porque as regras para a contenção da pandemia afunilaram os horários do comércio de rua e das grandes superfícies, onde a esmagadora maioria das pessoas adquire os cabazes de prendas.
Percebemos todos o esforço que o país está a fazer, sabemos que a missão seria sempre muito difícil fosse qual fosse o Governo, mas é no mínimo questionável acenar com um abrandamento das regras para o período do Natal e, simultaneamente, manter as novas horas de ponta, fomentando concentrações ainda mais significativas de pessoas.
*Chefe de redação