<p>"Tyazhelo v uchenii v legko": como dizia o conde Generalíssimo Alexandre Suvorov (o "camarada" dos soldados), morto em 1800 sem perder uma batalha, "é preciso treinar duramente, para lutar com facilidade".</p>
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Vladimir Putin teve tempo, e razões, para pensar nisso, na última década. Foram anos desastrosos, no meio da corrupção, do crime organizado a infiltrar (e a dirigir) as fileiras, da decadência de meios, do mercenariato e da incompetência, do "Kursk", do teatro de Moscovo, de Beslan.
Assim, apesar de todas as próximas guerras poderem ser "híbridas", isto é, "político-militares", e de a crise na Geórgia continuar a ter uma via diplomática (o principal sinal, por agora, é a não-integração dos separatistas na Rússia), Moscovo reformou os quartéis, repensou os comandos, investiu na educação e no treino, modernizou e disciplinou. E preparou as suas forças armadas para cenários convencionais, "atípicos" e, como vimos, nucleares.
O mais recente processo de transformação, centrado agora no Ministério da Defesa e no Estado-Maior, começou a ter documentos de reflexão importantes, esboços e propostas de reformulação (da doutrina estratégica e do sistema de forças), a partir de 2004.
No projecto de "política social" das forças armadas, aplicável até 2020, prevê-se a melhoria substancial de remunerações e regalias, em troco da profissionalização quase integral. No fundo, o absentismo, a embriaguês e a droga, a prepotência, a desmoralização, o banditismo e os biscates empresariais, nas horas vagas, a falta de respeito pelos subordinados, o motim destes e outras doenças seriam resolvidos pelo aumento dos patamares socioeconómicos e pela introdução de uma gestão moderna dos exércitos.
Havia depois, e antes, o gigantesco caminho do material e da estrutura, das operações e da direcção. Em 2006, nas diversas reflexões do general Yuri Baluievski, o primeiro comandante-chefe a presidir à nova "revolução dos assuntos militares", estava claro o que faltava. A saber, melhor relação entre poder combatente e logística ("músculo" e "gordura"), qualificação do pessoal, pré-posicionamento eficaz, adaptação integral à guerra electrónica e de informação, combinação e conjunção de forças (OGV, no acrónimo russo), integração das unidades especiais na chefia de informações, vulgo "serviço secreto militar" (GRU), mobilidade e automação, modernização dos sistemas de comando, comunicações, controle, computadores, informações, vigilância e reconhecimento (C4ISR), capacidade expedicionária e de projecção.
Muitos destes elementos estão ainda em introdução. Um especialista queixava-se, há pouco tempo, da relativa lentidão na entrada em serviço dos "Typchak", as novas gerações de aeronaves não tripuladas de observação e combate (UAV/UCAV).
Outro projecto, mais controverso, era o da complementação (não substituição) dos "distritos militares", considerados em parte ultrapassados, e a criação "experimental" de três comandos "regionais": meridional, cobrindo o Cáucaso e a região Volga/Urais, oriental (para a massa asiática, o extremo leste e a Sibéria) e ocidental (abrangendo a Europa, baseado em Moscovo e S. Petersburgo).
Por fim, quanto à decisão de emprego de forças, houve também mudanças radicais de "filosofia". A começar, como se verá, pelas intervenções fora da Rússia, a proteger os "interesses vitais do Estado". Que podem ter costas largas, como noutros países.