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Na última semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. decidiu cumprir uma das suas promessas eleitorais: a imposição de tarifas às importações de estados terceiros de forma a retaliar um hipotético tratamento de desigualdade em idêntico plano. Do nada criou uma guerra comercial entre vários blocos, tratando de forma igual e agressiva, nomeadamente, a União Europeia e a China.
Provavelmente sonhando com a ideia de ser um novo Kissinger ou um outro Nixon, no primeiro mandato deste, quando estabeleceram relações diplomáticas, em 1972, com a China de Mao Zedong e de Zhou EnLai, desregulou os mercados, mandou às urtigas a Organização Mundial do Comércio e abalou as bolsas de todo o Mundo. Pelo meio, arranjou um problema com a colossal dívida dos Estados Unidos.A tudo isto acabou por fazer comentários que não se podem reproduzir e aproveitou para faltar à verdade ao seu eleitorado. A ameaça da retaliação parece ser a única possível para fazer parar este carrossel de vaidades comerciais. Pese embora ter suspendido, por 90 dias, a aplicação das tarifas, com exceção da China, continua a dar sinais erráticos à comunidade internacional.O atual enquadramento geopolítico não representa só uma certa rutura com a atual ordem internacional, mas implica, para a Europa, a obrigação de assumir a sua responsabilidade institucional, economia e política. Desde logo, na defesa do livre comércio e da globalização das relações comerciais entre os povos, evitando uma recessão que ninguém deseja. Ao mesmo tempo, torna-se necessário assumir um novo papel, na política de defesa do continente europeu e no quadro geral da NATO, perante a continua agressão russa à Ucrânia.Tal como aconteceu com a Alemanha nazi, começa a antever-se a possibilidade de uma fuga de cérebros que não pretendem viver debaixo da atual Administração norte-americana e podem estar disponíveis para vir para a Europa e aqui serem acolhidos e profissionalmente integrados. Poderia ser uma oportunidade para se evoluir na política de inovação tecnológica na União Europeia.
Sabemos bem ser difícil compatibilizar esta situação com a velha e saudosa aliança, que justificou a Carta do Atlântico no pós-1945, mas é o que parece que os EUA pretendem obter.
Na atual campanha eleitoral, para a Assembleia da República, não temos visto este tema na agenda de preocupações dos partidos com responsabilidades governativas. Certo é que estamos limitados pelas políticas comunitárias, mas, mesmo assim, temos aqui espaço para poder evidenciar o nosso contributo para uma nova política europeia.
As tarifas podem ser não uma ameaça mas, antes, uma oportunidade para se pensar de forma diferente o papel da União Europeia na ordem global.