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Bato tantas vezes na mesma tecla, que fico a pensar se o problema é meu e me estou a tornar naquele velho rezingão descrente na evolução, principalmente no que concerne à inteligência artificial generativa. Mas, sempre que penso nisso, surge mais uma informação que me faz pensar "aha, afinal...". Desta feita é um artigo do "The Guardian", em que vários cientistas alertam para a possibilidade de que a IA nos está a deixar menos inteligentes, para usar uma formulação suave. A tecnologia do momento está a fazer-nos perder criatividade, memória, orientação e até poder de decisão, deixando estas tarefas para as máquinas. Mas também a inteligência e pensamento crítico. Ainda que não seja possível dizer com certeza que o nosso QI esteja a diminuir devido à IA, é certo que está a baixar e há investigadores a apontar nesse caminho.
Confiar na IA para fazer pequenos textos e ensaios liberta o cérebro dessa tarefa, mas também o deixa de exercitar e estimular com informação nova para processar e sobre a qual pensar. Um estudo da SBS Swiss Business School encontrou uma correlação (bem sei a diferença entre correlação e causalidade) entre o uso mais frequente de sistemas de inteligência artificial e a menor capacidade de pensamento crítico. Um cérebro adormecido pelas informações pré-mastigadas tem mais dificuldade em raciocinar sobre o que lhe é posto à frente ou perde a capacidade de realizar aquelas tarefas, porque não exercitou a mente para obter conhecimento.
Neste eixo de estupidificação coletiva entram também as redes sociais baseadas em algoritmos obscuros, onde procuramos gratificação imediata. Ficamos de defesas em baixo, sem perceber que estamos a receber conteúdos que podem ser falsos, manipuladores ou manipulados.
Michael Gerlich, autor do estudo suíço, põe em cima da mesa um cenário para nos levar a ser mais proativos quando usamos IA (porque ninguém quer que deixemos de aproveitar as potencialidades, mas apenas um uso consciente da inovação): "Pense num hipotético bilionário. Cria a sua própria IA e utiliza-a para influenciar as pessoas, porque pode treiná-la de forma específica para dar ênfase a determinadas políticas ou opiniões. Se houver confiança e dependência, coloca-se a questão de saber até que ponto está a influenciar os nossos pensamentos e ações". Nem imagino onde foi buscar a ideia...