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Muitos foram os homens que se apaixonaram por Rosa Serra. Era tempo de guerra, não havia espaço para avanços amorosos, mas os militares quando a viam "aterrar" com o seu paraquedas na selva da Guiné, Angola ou Moçambique, ficavam de boca à banda. Rosa foi uma das mais respeitáveis enfermeiras da Força Aérea Portuguesa. Em meados da década de 1960, pouco tempo antes de se finar, Salazar dera, após insistência de alguns generais, autorização para que as mulheres pudessem vestir farda. Crescia o número de feridos por evacuar, todos os esforços eram poucos. Rosa desejava conhecer Lisboa. Nascera em Famalicão e foi essa vontade, mais do que outra coisa, que a levou a inscrever-se no curso de paraquedistas em Tancos. Antes de ir para a Guiné tratou de cegos e estropiados em Angra do Heroísmo, lugar de recuo. Raramente vacilava e não tremia em terra, no ar, a amputar pernas e braços ou a desembaraçar-se de tiros cruzados. Evacuou soldados nos lugares mais difíceis e, quando passava, não havia quem conseguisse deixar de olhar. Recebeu dois louvores que nunca foram anunciados - as mulheres não podiam ter relevância em trabalhos de homem. Por isso, foi esquecida. Ela e várias outras paraquedistas. Durante o Estado Novo poucos sabiam da sua existência. Na democracia a ninguém interessava que se soubesse. Só vários anos depois a sua história foi contada, só há poucos dias a Câmara de Famalicão, e muito bem, lhe ofereceu a mais alta distinção da cidade. Valeu a pena, Rosa.