A paz é um dos votos natalícios. Para os católicos a oitava do Natal encerra-se com a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, no dia 1 de janeiro.
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A partir de 1968 o Papa Paulo VI convidou todos os homens e mulheres, não só os católicos, a celebrarem a paz nesse dia. A partir de então, os papas publicam habitualmente a 8 de dezembro uma mensagem para essa celebração no primeiro dia do ano seguinte.
Na semana passada foi divulgada a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz. O tema é: "A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica".
A paz é uma aspiração de toda a Humanidade. Mesmo quando se vive num mundo em guerra, aquilo que o Papa já tem denominado como a "Terceira Guerra Mundial em pedaços", o "desejo de paz está profundamente inscrito no coração do Homem".
O Papa, como já tinha feito na recente viagem ao Japão, denuncia na mensagem que não se pode construir a paz "sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total". A corrida ao armamento nunca será garantia de um mundo mais pacífico: "Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades".
Contrariamente ao que alguns querem fazer crer, as religiões, sobretudo a cristã, podem dar o seu contributo ao vincar no consciente coletivo a ideia da fraternidade, por referência a um Deus que é Pai. É certo que no passado se fez a guerra em nome de Deus - e ainda hoje se faz. Mas isso é uma perversão e contaminação de um dos valores mais determinantes da fé religiosa.
A paz exige também que as atrocidades e o sofrimento que a guerra provoca não sejam esquecidos. Nesta mensagem o Papa recorda as palavras que proferiu em Nagasaki, no Japão: "Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno".
Os que promovem a guerra procuram justificar, branquear e até negar o Holocausto ou os bombardeamentos de Hiroxima e Nagasaki. O Papa é um dos poucos líderes mundiais que tem procurado avivar a memória coletiva e chamado a atenção para estes factos, as quais muitos políticos tentam varrer para debaixo do tapete. É o caso das alterações climáticas, que muitos, apesar das evidências científicas, procuram negar. Em relação a estas, o Papa exige uma verdadeira conversão ecológica.
Para o Papa, a construção da paz autêntica pressupõe a escuta do passado para desenhar um futuro mais promissor. Isso exige um novo sistema económico, mais justo e mais respeitador do ambiente. Esta ideia é de Bento XVI, mas o Papa Francisco cita-a e fê-la sua.
*PADRE