
Uma paz, mesmo imperfeita, entre a Rússia e a Ucrânia teria efeitos quase imediatos na economia europeia. Nos mercados, o primeiro impacto seria psicológico: a pressão constante da guerra sobre os preços da energia começaria a aliviar, e o continente poderia respirar um pouco melhor após quase quatro anos de incerteza.
O preço do gás, que tem funcionado como termómetro da ansiedade europeia, seria o primeiro a reagir. Só a possibilidade de um acordo levou a que os investidores dessem um sinal de menor risco de rutura energética. Se essa tendência se confirmar, as famílias e as empresas poderão sentir alguma folga nas contas de eletricidade e aquecimento - pequenas diferenças que, somadas, aliviam a inflação e reduzem custos de produção.
Com a energia mais barata, a inflação tenderia a descer de forma mais consistente. E, com preços mais estáveis, os bancos centrais teriam espaço para ponderar cortes nas taxas de juro que continuam a pesar sobre o crédito à habitação, investimento e consumo. Não seria um movimento imediato nem garantido, mas a paz abriria uma porta que a guerra tem mantido fechada.
Ao mesmo tempo, a confiança económica ganharia novo impulso. Empresas que adiaram investimentos por receio de escaladas militares poderiam voltar a arriscar; a indústria beneficiaria de forma direta. E uma Europa mais estável atrairia mais capital estrangeiro, que fugiu, em parte, devido à proximidade da guerra.
Mas nem tudo seria automático. A paz não apagaria as tensões com a Rússia, nem reverteria os danos já causados: infraestruturas destruídas, cadeias logísticas alteradas e dependência energética ainda por resolver. Além disso, a reconstrução da Ucrânia exigirá centenas de milhares de milhões de euros, levantando a questão de quem paga a conta. Por sua vez, a decisão europeia sobre o uso dos ativos russos congelados poderá tornar-se uma das grandes batalhas diplomáticas do pós-guerra.
Há também um risco político: um acordo percebido como injusto - seja por conceder território, seja por permitir que os responsáveis escapem sem consequências - pode gerar instabilidade dentro da própria Ucrânia e dividir a Europa. Uma paz frágil ou contestada poderá trazer apenas uma trégua temporária, insuficiente para aliviar plenamente a economia.
Ainda assim, mesmo um acordo parcial teria impacto. Para uma Europa cansada de crises sucessivas - pandemia, guerra, inflação - a paz na Ucrânia seria, acima de tudo, a possibilidade de retomar o controlo do seu futuro económico.
