Robert Schuman, um dos fundadores do projeto europeu, redigiu em 1950 a "Declaração Schuman", com o intuito de unir a Europa e evitar novas guerras.
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Schuman conhecia bem as consequências da guerra na Europa e refere que "a paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criativos que estejam à altura dos perigos que a ameaçam".
Assistimos na última década a alguma descrença no projeto europeu. A saída do Reino Unido, as posições da Polónia e da Hungria de não aceitação plena das regras da União Europeia, o crescimento de forças nacionalistas com discursos antieuropeus em muitos outros países pareciam estar a condenar a Europa a um declínio anunciado.
A invasão russa da Ucrânia, um atentado ao direito internacional e aos direitos humanos que nos faz remontar a memória à Segunda Grande Guerra, evidenciou a necessidade de uma Europa forte e unida. Estou certa de que as forças antieuropeístas encontrarão a partir de agora menos suporte na opinião pública e quase ouso dizer que perante o atual cenário de guerra o Brexit não teria acontecido.
Os fundadores do projeto europeu sabiam isto. Tinham bem presente as consequências da guerra, a bestialidade da guerra, a estupidez da guerra. Não ambicionaram construir a paz pela força dissuasora dos exércitos: pensaram e concretizaram um projeto de valores humanistas, de procura de consensos entre os países, de promoção da segurança e da qualidade de vida dos europeus.
A Europa não pode desistir dos seus valores fundacionais, deve ser uma luz humanista, democrática, assente em estados de direito e no respeito pelos direitos humanos. Os "esforços criativos" são novamente necessários contra as forças obscurantistas que têm fomentado a dissidência e o ódio.
Criticar a democracia é fácil e os que orientam a sua ação política nessa crítica não pretendem um mundo melhor nem mais seguro. Pretendem um mundo em que os mais fracos são perseguidos e em que os mais fortes fazem da guerra o alicerce da sua força.
Milhões de ucranianos têm a sua vida em perigo neste momento. Milhões de ucranianos olham para a União Europeia como o porto de refúgio, deixando para trás as suas casas, os seus familiares e as suas vidas.
É a democracia e o humanismo europeus que representam para estas pessoas a esperança de poderem reconstruir as suas vidas no imediato e de sonharem poder voltar um dia ao seu país.
Estamos aqui para os ajudar, por eles e por nós próprios! Porque a lição que estamos todos a receber é de que a União Europeia vale muito mais do que aquilo que tantas vezes achamos. Porque a paz se constrói no Mundo pela ação de cada um de nós, todos os dias...
*Presidente da Câmara de Matosinhos