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Quarenta anos depois da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, um tempo que se abria a um futuro de paz europeia, eis que o velho continente volta a fazer ressoar os tambores da guerra. Depois de tantos anos a ouvir falar de cooperação económica e de prosperidade conjunta, a Europa parece agora preocupada com o seu rearmamento. Mas isso não é forçosamente trágico.
Em geografias diferentes e em publicações de linha editorial distinta, os chefes de Governo da Dinamarca e do Reino Unido fazem capa esta semana nas revistas “Newsweek” e “The New Statesman”, respetivamente. Mette Frederiksen e Keir Starmer encontram-se na preocupação que manifestam com o rearmamento dos seus países, assumindo-se como metáforas daquilo que é uma inquietação europeia, depois de largos anos a subalternizar políticas de defesa.
Escolhendo uma revista norte-americana para conceder uma entrevista, a primeira-ministra dinamarquesa trouxe consigo uma mensagem estratégica: “a Rússia não quer a paz, quer a guerra!”. Seja com a Ucrânia, seja com qualquer país europeu. Os ataques são recorrentes em frentes de guerra em solo ucraniano ou em modo de ciberataques ou em intervenções cirúrgicas a determinadas infraestruturas. Por isso, há que preparar trincheiras. E a Dinamarca, esse pequeno país que nos habituamos a ver como padrão do bem-estar, apresenta-se como uma espécie exemplar da nova Europa que se quer militarizada, estendendo a sua política de defesa ao Ártico, região cada vez mais disputada, que é hoje uma frente silenciosa de uma nova guerra fria. Keir Starmer releva também que o Reino Unido se apronta para o pior. Num balanço do primeiro ano de mandato, o primeiro-ministro britânico levou consigo o jornalista da revista “The New Statesman” nas visitas às tropas e na inspeção às frotas para mostrar um país que se prepara para qualquer conflito.
E Portugal, quarenta anos depois, onde está? No meio da Europa que ajudou a construir, entre o dilema de escolher entre a paz ingénua ou o realismo bélico. Ontem, no Mosteiro dos Jerónimos, o presidente da República demorou-se na questão da defesa europeia, falando em “armas que não matam, mas curam, promovem e pacificam”. É pertinente esta nota. O rearmamento da Europa não nos conduz irremediavelmente à guerra. Antes é um sinal de que estamos preocupados com a defesa da paz.
Para se perceber isso, circule-se, por exemplo, pelo centro de Roma. Em qualquer sítio (Coliseu, Vaticano, Panteão...), há carros da polícia/exército e militares fortemente armados e em prontidão para intervir em escassos segundos. Estão ali atentos, mas mostrando empatia por quem por eles passa. Estão ali em prol da segurança, mas prontos para responder a qualquer perigo. Assim, deve acontecer com a defesa da Europa.