A moralidade colada com cuspo à coscuvilhice está a transformar-se num vírus da sociedade portuguesa. Abundam os exemplos - e o pior é, a páginas tantas, o país desfocar-se dos problemas e ficar entretido, muito entretido, a consumir energias em volta da espuma dos dias.
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Uma rapariguita da moda (a Pepa - e cuidado com a pronúncia de massinha...) resolveu mostrar ambição para ter uma mala de senhora de marca? Pimba, foi zurzida de cima a baixo nessa nova coqueluche da modernice: as redes sociais. Então quando o povo está a caminho da miséria há alguém que ousa querer algo de carote? Puxar para baixo, numa tendência defensora de que todos sejam pobretanas é o que está a dar.
Outro episódio. Um cão assassino mandou desta para melhor uma criança e deve ser exterminado para se evitar que volte a molestar alguém? Aqui-d'el-rei, os movimentos defensores dos animais viraram-se do avesso e o quadrúpede ainda é vivo graças a uma providência cautelar. Poucos se importunaram com o infortúnio da criança - de quem, aliás, até ignoraram o nome - e tiveram enorme eco de paixão por um tal de Zico, sim, Zico, o nome do animal. Nenhum dos defensores do dito cujo se disponibilizou a levá-lo para casa... mas ficou bem na fotografia.
E a febre da defesa animal até já teve novos episódios - e de gritos!
Há pouco mais de uma semana um camião carregado de porcos - recos, tós, se se preferir... - despistou-se na A1 perto de Alverca. Os bichos andaram em bolandas, uns feridos outros não, e um GNR foi filmado em plena autoestrada a dar um pontapé num dos porcos. O que ele foi fazer! Circulou logo uma foto pelas redes sociais, coitadinho do animal, e até o Comando da GNR resolveu meter-se ao barulho em nome dos mais sagrados princípios - é até de desconfiar se não serão infiltrados os militares da corporação apanhados a comer um dos pitéus mais servidos nos restaurantes da Mealhada....
A algazarra deu para uma investigação do Comando-Geral da GNR ao procedimento do militar que pontapeou o porco - para uns no traseiro, para outros no focinho, como se fosse igual - e os resultados são agora conhecidos: o soldado até poderá ser fã de leitão, mas jamais em tempo algum, como diria o outro, quis provocar sofrimento ao tó! E mais: ao pregar-lhe um chuto terá até contribuído para que ele se pusesse a milhas da autoestrada, evitando-se assim que fosse morto por uma viatura que por lá passasse entretanto. Ou seja: depois de tanta apalermada discussão, fica-se quase no limiar de propor uma condecoração para o GNR que apontou ao tó!
Havendo tantos portugueses preocupados com tantas minudências - incluindo autoridades - explica-se o estado a que o país chegou.