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Que cenário para as eleições legislativas de setembro/outubro de 2019? Todos intuímos que já está desenhado e produzido, mas ainda não declarado e, por isso, da observação só resultam esboços incertos.
Deixo alguns aspetos a considerar:
1. Seremos governados por uma coligação; parece ser a hipótese mais viável já que, em particular, a justiça não deixará o PS gozar em pleno o seu sucesso governativo; 2. Mas as coligações desvendar-se-ão pré-eleitoralmente ou, como atualmente, serão desenhadas em sede de acordos parlamentares pós-eleitorais? O que se estranhou no início, entranhou-se de tal forma que, neste momento, nenhuma formação partidária se eximirá de fazer todas as contas possíveis antes e depois das eleições; 3. Sendo, inevitavelmente, o PS o partido mais bem colocado para escolher, como fará? Inclinar-se-á para a Direita, para a Esquerda ou para ambas a la carte? 4. A resposta também depende da vontade de terceiros, mas olhando de fora há alguns temas que podem condicionar as escolhas:
a. a economia tende a desacelerar - começam a aparecer de forma consistente estimativas negativas quanto à manutenção dos ritmos de crescimento da economia europeia; o crescimento da economia da Zona Euro abrandou, em termos homólogos, no primeiro trimestre, para os 2,5%, e a da União Europeia (UE) para os 2,4%, segundo uma estimativa divulgada pelo Eurostat. Segundo o banco ING os preços elevados nos combustíveis estão a penalizar o poder de compra dos consumidores e, por outro lado, a incerteza em torno do comércio com os EUA e o risco de novas tensões nos mercados financeiros devido ao novo Governo em Itália também são fatores que podem pesar no crescimento nos próximos trimestres; coligação ganhadora: à Direita.
b. a justiça tende a incomodar - organizado que parece estar o trabalho de investigação sobre o caso Sócrates, parece ser crível a extensão da pesquisa a um conjunto de outras personalidades do seu Governo, como é o caso de Manuel Pinho; considerando o terreno difícil em que este tema se move e a posição que Rui Rio sempre tomou em relação à performance da justiça em Portugal parece haver mais a ganhar numa coligação à Direita;
c. os temas fraturantes tendem a acabar - com o dossiê da eutanásia resolvido, num sentido ou no outro, não sobram muitos mais presentes para o laboratório social do Bloco de Esquerda; por outro lado se a lei não for aprovada será mais cauteloso inclinar à Direita sob pena de penalização moral nas urnas;
d. o presidente pode não voltar - e pode interessar que não volte; se for assim, entre 2019 e 2021 o PS e o PSD têm de estar unidos; nenhuma outra convergência será capaz de fazer qualquer dano à trajetória do presidente;
e. as divergências internas tendem a não contar - sobretudo no PS onde o Congresso validou com clareza a prova de vida política de António Costa;
O discurso descomprometido de Rui Rio e formalmente leal à geringonça de António Costa são uma cortina eficaz. Veremos o que fica ao levantar do pano.
* ANALISTA FINANCEIRA