É difícil, a partir deste “doce país que é Portugal”, como dizia o doutor Salazar, avaliar o que se passa longe.
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Aqui, as “grandes esperanças”, não no sentido que lhe atribuía Dickens, resumem-se aos destemperos linguístico-políticos da criatura que faz as vezes de presidente da República, inconfundível no seu papel de sibila de intenções alheias, e, ligado a este frenesim, o “estado da situação”, onde manda o não menos sibilino Costa, rodeado por aquela trupe desnorteada e incompetente que faz as vezes de governo da República. Se Costa vai ou fica, é matéria oracular que não cabe numa “sandes” de entremeada dos santos populares. Os cemitérios, dos mais modestos aos monumentos nacionais, estão cravados de insubstituíveis como Costa desde que a coisa foi fundada pelo pequenote de Guimarães. As televisões, com a sua brutal indigência, ajudam a estas doçuras, mantendo os portugueses absortos, se possível dias inteiros, num “tema” que elas cozinham com os seus “paineleiros” e “pivots”, das mais variadas e estúpidas formas possíveis, para, no dia seguinte, perpetrarem exactamente as mesmíssimas vacuidades sobre novo “tema”. Algumas até cometem crimes, como aconteceu com a TVI, a semana passada, que imputou um a um cidadão padre, por escrito e a cores, adjectivando boçalmente esse cidadão. Mas não era sobre nada disto que queria falar. Longe daqui persiste uma guerra na qual estamos envolvidos por sermos da União Europeia. A verdade é que o dinheiro dos contribuintes também concorre para o esforço de guerra da Ucrânia, graças à generosidade infinita da Comissão, do Conselho e do Parlamento europeus. Eis que, de repente, ocorre uma espécie de intervalo na guerra. E, por causa da Federação Russa e das acções internas do “grupo Wagner” do sr. Prigozhin, Putin recupera a famosa “teoria da facada nas costas” de Hitler, nos anos 20 e 30 do século passado, para descrever os eventos do fim-de-semana. Prigozhin nada em dinheiro sujíssimo que outrora também, com certeza, serviu a Putin. Com o “putsch” desfeito pela via intermediária da Bielorússia (e de outras coisas mais que por ora se desconhecem), Putin isolou, para já, Prigozhin do exército e da guarda nacional, mas ignora os níveis de “contaminação” deixados para trás.
Hitler usou a “teoria” a seu favor, e começou por eliminar Röhm para a seguir impor-se definitivamente ao exército. Não sabemos como irá reagir um Putin enfraquecido, irritado e ressentido. A Federação Russa ficou mais perigosa. A peripécia revelou que, atrás de Putin, virá alguém que seguramente fará mais mal que ele.
*Jurista
O autor escreve segundo a antiga ortografia