<em>"De histórias mal contadas, Anda meio mundo a viver, Enquanto o outro meio, Fica à espera de receber". </em><br/> <strong>Dia de S. Receber, Xutos & Pontapés </strong>
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António Costa gosta de Jorge Palma. Tem bom gosto. Aprecia tanto o compositor e as músicas intemporais do intérprete como a generalidade dos portugueses. A prova é que voltou a citar um verso da letra "A gente vai continuar", do álbum "Só". "Enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar", aludiu, anteontem, no encerramento do discurso de apresentação do Orçamento do Estado, tal como o tinha feito há um ano quando ainda tentava que os parceiros da geringonça caminhassem juntos na aprovação das contas de todos nós. Correu mal e fomos para eleições.
O disco é o mesmo, mas a música este ano é outra. O primeiro-ministro acena com duas medidas que não resolvem o problema dos portugueses, embora pareçam um daqueles refrãos que nos ficam teimosamente nos ouvidos, em loop. Vamos taxar os lucros excessivos dos hipermercados, vamos obrigar os bancos a renegociar os créditos à habitação quando as taxas de juro ultrapassarem a taxa de esforço das famílias.
As empresas de distribuição já reclamaram. A banca também.
Para os portugueses ficará o receio de que a escalada de preços nos bens alimentares ainda piore. Sabem bem que não há promoções grátis nem cartões de pontos que acrescentem euros à carteira.
Ficará também a incerteza sobre a possibilidade de pagar a prestação mensal da casa, sabendo já que os novos encargos com o crédito não serão dedutíveis no IRS, nem serão concedidas moratórias para quem está em maior dificuldade.
A mesma letra do tema de Jorge Palma, citada por António Costa, também diz que "todos nós pagamos por tudo o que usamos. O sistema é antigo e não poupa ninguém".
E com os Xutos & Pontapés, podemos cantar as "histórias mal contadas que anda meio mundo a viver".
*Diretor-adjunto