As associações que andam no terreno já o notavam, as estatísticas vêm comprovar essa intuição. O número de portugueses em risco de pobreza cresceu e castigou particularmente a faixa acima dos 65 anos. O fenómeno continua a atingir com especial dureza idosos, crianças e mulheres, havendo um acréscimo de 256 mil pessoas em risco. Os números reportam-se a 2021 e não refletem ainda a crise causada pela subida galopante da inflação.
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O agravamento de um cenário que já nos envergonhava, colocando-nos num desconfortável 8.o lugar na comparação com os parceiros europeus, impunha a aceleração de medidas estruturais, que permitam antever mudanças de fundo muito além do assistencialismo imediato. Pelo contrário, a estratégia nacional de combate à pobreza, que define metas até 2030, não saiu sequer da gaveta. Falta até a nomeação da equipa que terá a missão de levar o plano para o terreno.
Num fenómeno complexo e transversal, que exige uma intervenção cruzada em múltiplas vertentes, do emprego às competências pessoais e sociais, o que sobra de mais inequívoco é o papel crucial da educação. Não é por soar bonito que se insiste tanto no papel da escola como elevador social. É porque todas as estatísticas o comprovam: o risco de pobreza para quem tem o Ensino Básico é quase cinco vezes superior ao de um licenciado.
Mas essa visão de longo prazo não apaga a evidência de quanto são, no imediato, enormes os desafios que se colocam ao Governo. Com interrogações quanto ao impacto de decisões como a revisão dos cálculos para as pensões. O discurso sobre a sustentabilidade da Segurança Social e a solidariedade intergeracional é todo ele bem articulado e cheio de sentido, mas esbarra nas evidências da realidade. Num país em que a pensão média é de apenas 509 euros, qualquer mudança terá de ter em conta os compromissos com as gerações futuras, mas também as claras assimetrias existentes no universo de pensionistas. Sem um olhar à medida dos tantos que vivem com pensões magras, continuaremos a empobrecer. E a subir numa tabela onde decisivamente não queríamos estar nos lugares cimeiros.
*Diretora