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O facto de grande parte dos jovens estarem perante dificuldades em manter uma vida normal devido ao custo de vida é algo por demais conhecido e debatido. Em média, são mais instruídos do que os seus pais ou avós, mas enfrentam desafios que os levam a sair do país ou, alternativamente, a sobreviver (viver é algo bem distinto). Neste último caso, alguns desistem e conformam-se. Outros lutam sem certezas sobre o amanhã.
A crise na habitação, que até levou o Governo português a referir o assunto numa carta recente à Comissão Europeia, comporta um desafio de dupla face, tanto para os mais novos como para algumas franjas da geração ligeiramente grisalha. O primeiro aspeto diz respeito aos preços das casas e do crédito, que se tornaram incomportáveis. O lado B do problema é menos percetível a olho nu: o grau de riqueza da juventude atual é bem menor do que as gerações dos anos 80 ou anteriores. Porquê? Essas famílias aproveitaram o “boom” do crédito barato associado a preços baixos do imobiliário. E o que aconteceu então? Na maioria dos casos, mantiveram consigo um património que só se valorizou até à data. Isso representa riqueza nas mãos dos respetivos proprietários. Caso tenham dificuldades, basta-lhes alienar esse bem imóvel para garantir o desafogo.
Pela lei da vida, muitos dos mais novos vão herdar um largo património imobiliário no futuro. No entanto, esse cenário tem dois inconvenientes. Os imóveis em causa poderão sofrer desvalorizações ao longo dos próximos 30 ou 40 anos, quando os pais dos jovens atuais chegarem ao fim do seu percurso de vida. Em economia, as previsões quanto aos ciclos económicos falham por sistema. Uma qualquer guerra ou evento extraordinário deitam por terra as expectativas. Por outro lado, o período mais difícil e, supostamente, mais produtivo (no trabalho e no alargamento da prole) foi atravessado pelos millennials em sofrimento.