Há uma catadupa de dias-efeméride à escala mundial. Dia Mundial da Paz. Dia do Braille. Do Holocausto. Da Língua Materna. Da Vítima de Crime. Dos Direitos da Mulher. Das Vítimas do Terrorismo. Dos Direitos do Consumidor. Da Poesia. Da Eliminação da Discriminação Racial. Da Floresta. Da Árvore. Meteorológico. Do Estudante. Do Teatro. Do Dador de Sangue. Da Saúde. Do Cosmonauta. Da Terra. Do Livro e dos Direitos de Autor. Do Escutismo. Da Propriedade Intelectual. Da Prevenção e Segurança no Trabalho. Da Dança. Do Pai. Da Mãe. Da Liberdade de Imprensa. Do Trabalhador. Da Segurança Social. Para o Desenvolvimento Cultural. Da Diversidade Biológica. Do Não Fumador. Da Criança. Do Ambiente. Da Cooperação. Do Salvamento. Da População. Da Fotografia. Da Solidariedade. Da Alfabetização. Do Turismo. Da Música. Da Arquitectura. Das Pessoas Idosas. Do Animal. Dos Professores. Dos Correios. Da Saúde Mental. Da Luta Contra a Dor. Da Alimentação. Da Terceira Idade. Da Poupança. Da Ciência para a Paz e Desenvolvimento. Da Televisão. Da Sida. Do Voluntário. Uff!
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O calendário preenche-se numa panóplia de dias destinados a reflectir e a projectar o futuro de marcos da sociedade à escala planetária. Juntando-se-lhes os reservados a assinalar efemérides país a país e ainda os criados com o fito exclusivo de agitar o consumo (o Dia dos Namorados é um dos muitos exemplos...) quase não sobram dias livres no ano...
Hoje, 16 de Outubro, é o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. A data impõe balanços e reflexões, dando-se o caso de haver um movimento pendular à escala global a gerar um menor desequilíbrio nos pratos da balança. Isto é: enquanto há uma tendência para milhões de seres humanos, na Ásia, África e América do Sul, escalarem degraus da pobreza rumo a um nível menos infra-humano, em sentido inverso degradam-se as condições de outros milhões, na América do Norte e na Europa - aumentando igualmente o fosso para os mais ricos.
Azar! Será a interjeição mais fácil a reter neste tempo de deterioração abrupta das condições de vida, um pouco por toda a Europa - muitíssimo em Portugal. Fazendo recordar os tempos em que se ouvia o ruído do alto dos palanques de feira dos vendedores de banha da cobra destinada a combater a queda de cabelo, problemas urinários, pedra nos rins ou o crescimento das unhas, surgem como cogumelos painéis opinativos de tudólogos defensores de estratégias de combate à crise, preconizando tudo e o seu contrário. E, no entanto, para lá do plano inclinado na área geográfica por nós habitada, só há uma certeza: perante a anemia económica generalizada é impossível manter a actual qualidade de vida. Não há alternativa, tamanhos os desmandos e a não correspondência produção-consumo.
Doendo a verdade bem mais do que punhos acertados na face, resta algo sem resposta objectiva: como foi possível chegar-se ao actual ponto?
As elites liderantes exercitaram durante décadas a Mentira. Multiplicaram o Dia da Mentira por semanas, meses e anos seguidos. Hipotecaram o presente e deixam um rasto de dívida às gerações futuras. Fizeram-no, porém, legitimadas pelo exercício do voto democrático dos portugueses. A punição política, e só essa, é um desconto da treta na factura da irresponsabilidade.