Corpo do artigo
Em Portugal, em 2023, 2,1 milhões de pessoas viviam em situação de risco de pobreza, tendo 1,7 milhões menos de 591 euros por mês, o que define o limiar da pobreza no país, colocando Portugal abaixo da média da União Europeia. Segundo o relatório de 2024 do Poverty Watch, as principais causas da pobreza em Portugal são os baixos salários, a precariedade laboral e as deficientes prestações sociais. Dificuldades na alimentação, no pagamento da habitação, no aquecimento são, entre outras, as consequências nefastas para as pessoas que dela são vítimas.
A pobreza emerge como um dos temas da quadra natalícia. Curiosamente com um Natal que se transformou em mais um pretexto que proporciona e justifica o consumismo. Sendo pela sua natureza e simbolismo uma festividade religiosa, tal identidade tende a ser subalternizada, o que pode ser compreendido em sociedades que se tornaram laicas. Diferente será o facto de, não se deixando de enaltecer valores que lhe são próprios, como a solidariedade, a tolerância e a paz, estes se adulterem, na prática, enquanto valores humanos, em comunidades que secundarizaram o idealismo religioso em favor de comportamentos e objetivos pragmáticos. Acontece, porém, que este pragmatismo tem servido sobretudo as atividades promotoras de riqueza … e de violência.
No Natal ressaltam iniciativas solidárias cuja importância devemos reconhecer e elogiar. Mas não deixa de ser problemático que, mantidas e até reforçadas as discriminações sociais, não se concretize o propósito ético de se diminuir drasticamente a pobreza.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável n.o 1 da ONU é o de, até 2030, se erradicar a pobreza extrema em todos os lugares, a qual atinge atualmente, em todo o Mundo, mais de 700 milhões de pessoas (cerca de 10% da população) que vivem com menos de 1,18 euros por dia.
Agora será de vez? Estarão disponíveis os mais favorecidos, incluindo-se aqui os milionários e a própria classe média, para, além da caridade, contribuir com a disponibilização de parte dos seus bens?...
É que a pobreza continua no Natal e para além deste...…
*Coordenador Observatório da Solidão/ ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo