Tenho o maior respeito pela Polícia de Segurança Pública. Nos últimos anos, todas (repito, todas) as minhas experiências de casual contacto com agentes dessa corporação foram extremamente positivas, evidenciando, da sua parte, um saudável profissionalismo, muito distante do autoritarismo de outros tempos.
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Sei das difíceis condições remuneratórias em que os agentes da PSP vivem, que os obrigam a uma vida espartana, às vezes passando o limiar do aceitável. Não raramente, interrogo-me mesmo se é legítimo exigir a esses agentes, frequentemente oriundos de ambientes socioeconómicos com grandes dificuldades, uma conduta de relacionamento exemplar, operando eles nas condições em que atuam. Há muito a fazer neste domínio.
Imagino, em especial, a dificuldade dos membros das forças de intervenção, em situações de elevado stresse, quando objeto de provocações e sujeitos a conjunturas de grande tensão psicológica. E não posso, nesses instantes, deixar de pensar que eles são a nossa derradeira linha de defesa da ordem, em contextos de violência e potencial rutura da paz pública.
Tudo o que escrevi, e que é muito sincero, surge às vezes abalado pelo conhecimento de atuações policiais que relevam de uma cultura de racismo, xenofobia e discriminação. Admito que possa haver, aqui ou ali, algum exagero nessas denúncias, mas algum "fogo" deve haver no meio de tanto "fumo". E o facto de, numa atitude de persistente corporativismo, se manter, por parte das suas organizações sindicais, uma teimosa recusa em reconhecer os erros dos agentes culpados desses atos, ajudando a separar "o trigo do joio", acaba por ser uma mancha triste sobre a imagem da Polícia e uma acha na fogueira de descrédito de quantos procuram denegri-la e afetar a sua autoridade junto da sociedade.
A forma bem lamentável como sindicatos da PSP agora se comportaram face a um seu colega, que procurou alertar para a necessidade de confrontar com coragem uma cultura discriminatória que, tal como em outros setores da sociedade, impregna a ação de agentes das forças policiais, foi um imenso desserviço prestado à corporação. Atitudes como esta contribuem também para explorar a circunstância, bem conhecida, de que agentes das forças policiais integram hoje grupos de extrema-direita e desenvolvem atividades à margem das normas constitucionais.
A nossa Polícia é o garante da ordem da democracia. Não se defende o sistema democrático com recurso a métodos que deixam de depender da autoridade para passarem a relevar do autoritarismo.
* EMBAIXADOR