Precisamente no mesmo dia em que o maior serviço digital de streaming de música e podcasts disponibilizou as playlists personalizadas para recordarmos os artistas que mais ouvimos durante o ano, João Cotrim Figueiredo publicou nas redes sociais uma versão adaptada do Spotify Wrapped. A linguagem gráfica é a mesma, a dinâmica idêntica, apenas muda o conteúdo. Na playlist simulada do candidato presidencial não há canções, há recados políticos. "Espero que para o ano a música no país já seja outra", escreve o liberal.
Já não há dúvidas de que a política também é um produto instagramável. Quer o Chega, quer a Iniciativa Liberal perceberam isso primeiro do que outros partidos e estão a investir como nunca nas redes sociais para "falar" diretamente com os eleitores mais novos. Perceberam que a atenção não se pede, conquista-se, que a política já não se expõe apenas na televisão, mostra-se no telemóvel.
Há quem fale de um choque de gerações. A do scroll e a outra, mais velha, ainda enraizada nos comícios, nos outdoors, nos debates televisivos. Chegamos à época em que há políticos que já não querem parecer políticos, mas, sim, criadores de conteúdos. Mas não se trata só de consumir política em novas plataformas. É evidente que os jovens deixaram de acreditar nas formas tradicionais de fazer política e a culpa não é deles. Hoje querem sobretudo mudanças e os algoritmos sabem disso.
Resta apenas perceber se esta adaptação às redes sociais aproxima os eleitores ou apenas a transforma num espetáculo digital. É que mais do que um choque de gerações, vivemos uma época de choque de expectativas.

