Com a recente remodelação do Governo do PS, o que voltou a confirmar-se é que a nossa classe política é cada vez mais política e menos classe.
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A promoção de dois secretários de Estado a ministros, justificada por António Costa pela vontade em dar continuidade às políticas definidas pelo Governo, é reveladora da atual crescente dificuldade no recrutamento de novos membros do Governo, como foi largamente referido pelos líderes da Oposição e por uma vasta legião de comentadores políticos. Em meu entender o que terá ficado por dizer é que esta dificuldade de atração de novas pessoas para a política e para o Governo não é um exclusivo do PS, é uma fatalidade indesmentível a que nenhum Governo escapará tão cedo, seja ele de que partido for. A classe política é cada vez menos classe em qualidade mas sobretudo em quantidade.
Este problema tem duas razões essenciais e não vale a pena, no Governo ou na Oposição, tentar ser hipócrita nos comentários ou nas críticas que se vão debitando em todas as ocasiões como estas.
Por um lado, falta a disponibilidade dessas tais novas pessoas da sociedade civil (os que já estão na política são vistos como uma espécie de militares em missão) para aceitar o gigantesco escrutínio público a que hoje se têm de sujeitar (incluindo o dos seus familiares) e por outro falta atratividade das condições remuneratórias disponíveis para essas tarefas de Hércules.
É muito bonito e romântico falar do inelutável serviço à pátria, mas a geração atual pode ser romântica mas não é trôpega, como cantava o José Cid.
Cada vez é mais complicado recrutar para o Governo, para o Parlamento ou para as direções partidárias pessoas que não tenham feito a sua vida na militância partidária, ou a sua carreira nos gabinetes governamentais, autárquicos ou em alguma empresa pública. Pelas duas razões acima aduzidas, mas também porque entretanto, de tanto ser assim, a verdade insofismável é que o círculo de conhecimentos dos que decidem também começa a ficar cada vez mais estreito e limitado.
É muito fácil e nostálgico estabelecer comparações entre a qualidade dos deputados das primeiras legislaturas e o perfil da atual composição da Assembleia da República. O mesmo se poderia dizer se formos analisar com a mesma distância os ministros e secretários de Estado dos vários governos separados por algumas décadas. Independentemente da maior ou menor qualidade intrínseca deste ou daquele caso particular, o que realmente mudou foi o padrão da experiência de vida profissional. Um CV como o da nova ministra da Habitação é tão natural nos dias de hoje, como era impensável há 30 ou 40 anos. Lamento dizê-lo, mas o problema não é só deste Governo socialista. Quem disser o contrário nunca atentou nos seus telhados de vidro.
*Empresário