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O anúncio da construção de uma nova travessia sobre o rio Douro é uma excelente notícia.
A vontade política expressa de dois autarcas eleitos, juntamente com a comprovada autonomia financeira para o executar, são os elementos mais importantes para a avaliação do grau de maturação de um projeto. E não põem naturalmente em causa a qualidade do processo interno de decisão nem o cronograma funcional em que vier a assentar.
É, repito, uma excelente notícia:
1. Ao contrário do que é habitual e muito ao contrário do que foi a história recente da relação entre os responsáveis das duas margens, Rui Moreira e Eduardo Vítor apresentaram-se serenos e solidários a anunciar com clareza um projeto partilhado que beneficia ambos os territórios; a escala dos investimentos tantas vezes maltratada por incompatibilidades mesquinhas ou cálculos taticistas emerge neste caso correta e racional;
2. Em segundo lugar, ouvimos finalmente, com clareza meridiana, que entre o Porto e Gaia há um e só um Centro Histórico; que a ponte seja o pretexto para uma visão integrada de um espaço que é obviamente o mesmo e que, por isso, será objeto de um cuidado mais genuíno e mais respeitoso é algo de grande alcance;
3. Em terceiro lugar, vimos que afinal sempre é possível virar simplesmente as costas aos eternos empecilhos colocados pelas instâncias pardas do poder central e decidir, simplesmente decidir fazer, porque há competência política, "expertise" técnica e capacidade financeira; talvez seja mais demorado, mas este é um exemplo que os dois autarcas dão ao país sobre a descentralização possível apesar de sempre negada;
4. Em quarto lugar, percebemos que os dois autarcas estão decididos a atenuar os efeitos mais negativos do sucesso turístico (entre outros) que vimos experimentando. A nova travessia favorecerá, certamente, o desvio do trânsito automóvel da zona da Ribeira do Porto e Gaia, privilegiando, ao contrário a mobilidade pedonal pelo encerramento ao tráfego automóvel do tabuleiro inferior da Ponte Luís I.
5. Por último, ainda que seguramente o mais importante, sensibilizou-me, a mim e a todos os portuenses, estou segura, a delicadeza da escolha para o nome a dar à nova ponte. Que outro nome da história recente da grande diocese do Porto tão palpavelmente podemos associar ao consenso, ao diálogo e à escolha do bem maior?
ANALISTA FINANCEIRA