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1 O mercado ferve com os milhões atirados para cima da mesa; difundem-se notícias verdadeiras e falsas para testar o impacto junto dos adeptos; os líderes, confrontados com apostas em concreto, não confirmam nem desmentem; a opinião publicada produz análises assertivas sobre possibilidades nebulosas, paradoxo que não atrapalha ninguém; as novidades abrem telejornais e fazem manchetes nos jornais, multiplicando colunas com o que entra e o que sai; a expectativa da opinião pública cresce até à meia-noite, a hora de fecho do mercado. É divertido o mimetismo entre a pré-época do futebol e a do Orçamento do Estado. Incluindo o resultado final. Porque, também na pré-época orçamental se vibra com a ilusão das contratações sonantes (menos impostos, mais salários, melhores pensões), para, encerrado o mercado, nos confrontarmos com aquisições de categoria duvidosa (mais impostos indiretos, salários congelados, uns cêntimos nas pensões) e a venda dos melhores ativos (no caso quase tudo despachado a preço de saldo para investidores chineses).
2 Se não os podes vencer, junta-te a eles. E é alicerçado na sabedoria popular que arrisco a tal análise (ainda que pouco assertiva) sobre possibilidades nebulosas. Num Orçamento em que há pouco para dar e muito para tirar, ressalto a famigerada sobretaxa de IRS. Era uma das poucas certezas de há uns meses: acabava no final deste ano. Acontece que António Costa, confirmando que o que é verdade hoje, é mentira amanhã (conceito popularizado por Pimenta Machado quando era presidente do Vitória de Guimarães), já não dá essa decisão por garantida. Fica a dúvida (uma vez que o primeiro-ministro já garantiu que é preciso fazer escolhas) sobre se o fim da sobretaxa fica dependente do aumento (mais um) do imposto do tabaco ou sobre a nova taxa que vai encarecer a Coca-Cola. E a suspeita de que o prazer de um cigarrinho ou de uma cola com limão para combater a ressaca passe a ser coisa só para ricos. Como diz, mais uma vez, o povo, quem não tem dinheiro, não tem vícios.
3 O PSD ainda não conhece o Orçamento, mas já não muda a tática. A "geringonça", argumenta, seguirá a "linha errada" de "dar com uma mão para tirar com a outra". Um princípio justo, se ainda houvesse gente a quem tirar alguma coisa, posto que gente a quem dar é o que não falta, precisamente graças ao Governo do PSD. Já o CDS, no renhido campeonato pela liderança da Direita, vai mais longe e antecipa que a Esquerda vai optar pela "velha tática" de vender a ideia que "dá com uma mão, quando acaba por tirar [não com uma mas] com as duas". A ideia-chave aqui é a "velha tática". O CDS sabe do que fala e até peca por defeito. O "velho" Governo não só tirava com as duas mãos, como entrava frequentemente a pés juntos.
* EDITOR-EXECUTIVO