Pelas Festas da Senhora dos Remédios, na minha aldeia do Arco de Baúlhe, duas irmãs, que há muito estimo, trouxeram-me um saco de fotos e recortes antigos.
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"Porque a sra. dra. gosta de coisas antigas". E tão antigas eram que nelas descobri uma tirinha que anunciava num jornal local a minha primeira comunhão...
Ao deslizar pelas fotos, que eram na sua maioria propriedade da governanta de família ilustre do Porto, tia das duas estimadas irmãs, esbarro com a figura do engenheiro Ezequiel de Campos e recebo, logo a seguir, a sua biografia escrita por João Conde Veiga.
Surpreendi-me, por ignorância indesculpável, com o extraordinário percurso académico e político do biografado mas, sobretudo, com o profundíssimo conhecimento da realidade ultramarina, à época, com especial relevância para o arquipélago de S. Tomé. A sua visão para o desenvolvimento integrado do território físico e das suas gentes, autóctones e colonos, através de infraestruturação, serviços públicos, seleção de indústrias e de produtos para exploração agrícola e, sobretudo, de uma universal ação educativa, que se desprendia de factos e testes já efetuados e de meticulosa observação e registo, envergonham ainda hoje os nossos atuais exercícios de planeamento.
Mas, lendo esta e tantas outras biografias percebemos todos que o mais importante é a existência deste inacreditável manancial de informação e experiência acumulados durante séculos de presença em África. E assumir com doloroso espanto que não fazemos da sua divulgação uma prioridade. A mesma que nos faria realmente relevantes na construção de pontes entre África e o Mundo. Claro que quem diz África, diz América ou o Oriente...
A Pregação no Deserto, como já então chamava o eng.o Ezequiel de Campos, a um dos seus inúmeros livros, a propósito das suas chamadas de atenção sobre o futuro de Portugal, é infelizmente ainda a realidade de quem se admira com o que desperdiçamos. E vem a calhar quando olhamos para a frenética e afetuosa noção de prioridades dos nossos governantes.
Analista financeira