Mário Centeno está naqueles dias em que pode dar a escolher ao freguês o que mais quer ou o que mais interessa ao Governo: apresentar um défice ou um excedente já este ano das contas públicas. Aliás, tal decisão já estará tomada e apenas depende de que prenda o "Ronaldo das Finanças" quer deixar no sapatinho dos portugueses.
Se uma antecipação do excedente nas contas públicas previsto para 2020 ou se um défice irrisório facilmente acomodado. É que, segundo as contas do INE ontem divulgadas, o Estado já está com um saldo orçamental positivo de 1% do Produto Interno Bruto até setembro e, apesar das pressões de pagamentos de subsídio de Natal a funcionários públicos e pensionistas, este Governo pode chegar facilmente ao fim de 2019 com "lucro" nas contas públicas. O que seria uma ótima notícia para a imagem de Portugal no exterior, mas que tornaria a vida mais difícil a António Costa e Mário Centeno na altura de negociar o Orçamento do Estado para 2020. Os seus ex-parceiros, PCP, Os Verdes e o Bloco de Esquerda, querem mais despesa, principalmente pelo lado da Educação e Saúde. E isso não rima com a imagem das "contas certas" na Europa.
A verdade é que, à semelhança do que aconteceu entre 2016 e 2018, Centeno acabou por apresentar melhores contas do que aquelas que se propôs atingir. Este ano, só fugirá à regra porque haverá duras negociações no debate na especialidade, podendo afetar o OE 2020 entregue no Parlamento. Há aqui outro assunto que poderá mudar o curso das contas deste ano: a possibilidade de Centeno sair do Governo para o cargo de governador do Banco de Portugal em julho, uma ambição que ficou espelhada na sua última entrevista ao jornal "Expresso". Em vez de se tornar no primeiro-ministro das Finanças em 46 anos a apresentar um OE com superavit, pode ser o primeiro a atingir essa marca já este ano.
*Editor-executivo
