E vão cinco, pelo menos: Manuel Pizarro, presidente da concelhia do Porto do PS, Carlos César, ex-presidente do Governo Regional dos Açores, António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, Francisco Assis, deputado, e Ferro Rodrigues questionaram, por estes dias, a liderança de Seguro. Há gato no Rato?
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Manuel Pizarro acha Seguro pouco ativo (sinónimo de frouxo, em política), desde logo na defesa de um modelo alternativo de uso dos fundos comunitários. António Costa, fantasma de porte que assusta o líder do PS, não percebe, entre outras coisas, a trapalhada estabelecida em torno da escolha do cabeça de lista às europeias; Carlos César jura que foi sondado para entrar na dita lista, coisa que Seguro não confirma; e Assis, o intelectual de serviço, diz-se farto desta perniciosa dança de nomes, tanto que, para mal do país (e talvez mesmo da Europa), ameaça "saltar fora" do processo, antes que o processo o ponha a ele de fora.
A todos, Seguro responde, fleumático e recorrente: "Qual é a pressa? Cada coisa a seu tempo. O PS apresentará o seu candidato na altura devida". Seguro acha - e bem - que a pressa de uns faz dele uma presa. Cautela e caldos de galinha, portanto, são os ingredientes recomendáveis para tanta azia.
Este género de agitação que num instante se transforma num tumulto e, de repente, sobe à escala de furacão não é virgem no PS. Bem pelo contrário: corre nas veias do partido. Percebe-se que o sangue ferva: as eleições europeias são decisivas para o futuro próximo do PS, e ninguém quer abdicar da possibilidade de entrar num autocarro que pode parar em S. Bento, na residência do primeiro-ministro. Por isso as mentes se agitam e as críticas se avolumam.
António José Seguro não teve arte para escapar à teia que, paulatinamente, lhe foi sendo montada. Há meia dúzia de semanas, ninguém no seu perfeito juízo se atreveria a pôr em causa uma estrondosa vitória do PS nas europeias; hoje, não só essa possibilidade começa a ser atirada para o tabuleiro político, como há mesmo quem estabeleça um patamar: tudo o que for abaixo dos 44% obtidos pela lista encabeçada por Ferro Rodrigues será mau. Vale o mesmo dizer: a cabeça de Seguro vale 44% da votação expressa nas urnas.
É por isso que Seguro não se decide. Taticamente, espera para ver com nitidez os alinhamentos dentro do partido (e eles começam a ser muito claros). Estrategicamente, procura um cabeça de lista com estaleca mais do que suficiente não apenas para calar os críticos, mas sobretudo para cair no goto da Esquerda e nas boas graças do chamado eleitorado flutuante, onde se encontra a massacrada classe média.
Problema: se o candidato não fizer o pleno dentro do partido, a pressa para transformar Seguro na presa aumentará - e muito.