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Quem por estes dias chega ao Algarve para uns dias de férias não evita as habituais obras no asfalto que nos atormentam no verão. Se for obrigado a conduzir e não tiver GPS, não é difícil perder-se dada a descontinuidade da sinalética. Já conhecemos o caos urbanístico de algumas zonas, mas, pelo menos, seria expectável que se cuidasse melhor dos espaços verdes e, principalmente, dos acessos às praias. Felizmente há ainda alguns oásis.
Não é preciso socorrermo-nos de estatísticas para perceber que o Algarve tem cada vez mais turistas, grande parte vindos do estrangeiro. Passando uma manhã numa das praias perto do aeroporto de Faro, perde-se a conta aos voos que vão chegando. Mesmo quem tiver os olhos em terra percebe rapidamente que há muita gente vinda de fora. Que esgota hotéis, enche restaurantes, anima bares e povoa os areais de interessantes cruzamentos linguísticos. Mesmo nestes primeiros dias de julho, sente-se o intenso frenesim das férias que muitos já gozam a sul. Por isso, os municípios algarvios e as entidades centrais gestoras de infraestruturas deveriam, nesta altura, preparar a região para bem receber os turistas, que constituem a principal âncora da sua economia. Ora, há aspetos que, logo à chegada, começam a irritar o veraneante. As obras rodoviárias são o principal exemplo.
Quem percorre de carro toda a costa algarvia vai encontrando, com regularidade, obras de pavimentação que engrossam filas de trânsito sob um sol quente. A já problemática EN125 está a ser intervencionada em diversos sítios numa altura em que por aí circulam mais carros. Também se entende mal a opção de, em alguns locais, encolher as vias para alargar substancialmente passeios. Desviando, em alguns troços, o trânsito para estradas secundárias, os promotores de tão bizarro calendário de obras negligenciam a sinalética que coloca os condutores à deriva. Não é uma situação nova. No ano passado, por esta altura, escrevia uma crónica idêntica a sublinhar estes problemas. Este verão, tempo de pré-campanha eleitoral autárquica, as dificuldades avolumam-se, porque as obras parecem multiplicar-se.
Todos sabem que o turismo no Sul cresce, acima de tudo, devido ao atrativo das praias. Se assim é por que não se cuidam mais dos acessos aos areais e das respetivas zonas envolventes? Essa deveria ser uma das principais prioridades da gestão pública do território algarvio. Para fazer crescer a qualidade daquilo que oferecemos e para nos constituirmos como uma marca de referência que ultrapassasse as condições naturais que temos.
É claro que existem vários oásis. Muitos erguidos ao lado de verdadeiros pesadelos urbanísticos. Quem percorre a pé o areal entre Vila Real de Santo António e Manta Rota, assusta-se com a frente de praia de Montegordo, maravilha-se com a densa vegetação da praia Verde e encontra o descanso possível em Altura. Esperar-se-ia mais de uma região de areais extensos e de água mais quente. Caminhando para o levante, pasma-se com a babel urbanística de Portimão e sente-se alguma tristeza pela degradação dos espaços verdes de algumas áreas do Alvor. Armação de Pêra, uns quilómetros antes, antecipa um olhar mais frustrado face a um crescimento sem rumo. Felizmente o percurso desemboca em praias que vão sendo salvaguardadas deste assalto do cimento, de que são exemplo o Zavial, a Ingrina ou o Burgau. Mais à frente, a Fortaleza de Sagres e o Cabo de São Vicente oferecem visitas que conferem ao Algarve um outro registo a um turismo que reclama outros tons para além da areia. A paisagem natural devolve-nos alguma esperança de um Algarve cuja qualidade não se quer que seja medida apenas em circuitos hoteleiros de cinco estrelas.
Nas próximas semanas, a população algarvia aumentará substancialmente. Deseja-se bom tempo para passar uns dias a banhos de sol e de mar. Esperar-se-ia também encontrar uma região mais cuidada. Essa é uma prioridade que deveria ser assumida por autarquias e poder central. Porque quem compra uns dias de férias no Sul do nosso país não pode regressar desapontado com o que vê quando sai do areal.
* PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA U. MINHO