Umas vezes por razões profissionais, outras vezes por empenhamento cívico, tenho organizado congressos, conferências, seminários e debates. Quando o assunto parece ter interesse para um público alargado, cuido de fazer a devida divulgação pelos meios de comunicação social.
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Com raras excepções, chego à conclusão que tenho uma ideia completamente errada do que essas entidades entendem ser do interesse das suas audiências. Normalmente não divulgam o evento, nem fazem a sua cobertura, limitando o seu impacto àqueles que estiveram presentes. Ao contrário, já me aconteceu presenciar manifestações que não terão mobilizado mais de 40 pessoas mas que mereceram grande destaque nos media e que levariam, quem apenas viu, ouviu ou leu, a pensar ter-se tratado de algo em grande. Por isso, saber lidar com a comunicação social é crítico para a actividade política.
O actual governo tem sido acusado de ser particularmente eficaz a fazê-lo. Não conheço esses meandros e não sou capaz de emitir opinião. Confesso, porém, que me causa alguma perplexidade a polémica à volta da entrega dos computadores "Magalhães" às escolas. O governo mobilizou-se para o efeito. Para além da publicidade, é uma forma de dar importância ao acto. Mesmo quando as deslocações se multiplicam, não é todos os dias que uma escola recebe a visita de um membro do governo. As crianças teriam algo mais para contar em casa e aos amigos. Errado! Segundo alguma comunicação social, o governo fez isso com o único intuito de propaganda, transformando o acto da entrega dos computadores num circo mediático. Fez-me pensar. São capazes de ter razão. Mas qual é a condição indispensável para que haja esse impacto? Acertou: que os jornalistas lá vão! Será que a perfídia do governo vai ao ponto de os forçar a lá ir? Quem não fosse seria discriminado em futuros acontecimentos? Como ninguém, nem mesmo os jornalistas mais críticos insinuou isso, há algo de hipócrita nisto tudo: na parte das notícias dão destaque à entrega dos computadores; no editorial criticam o governo por os ter convidado a fazê-lo! A mim, parecer-me-ia mais coerente que não tivessem mandado ninguém e explicassem a decisão em editorial. Quando me convidam, e vou de livre vontade, não venho para casa queixar-me de ter sido convidado. Posso-me arrepender de ter ido, mas assumo que a culpa foi minha por ter aceitado o convite.
Um outro caso de estudo é Francisco Louçã, Doutor em economia e mestre no uso da comunicação social. A sua ânsia de produzir sound bites leva-o, frequentemente, a esquecer a sua formação em economia. Sucedeu, mais uma vez, com a posição sobre a nova fase de privatização da Galp. Louçã acha que o governo faz um péssimo negócio uma vez que as acções são compradas daqui a uns anos, mas pagas aos preços de 2008. Ora, diz ele, as empresas petrolíferas valorizam-se sempre pelo que o diferencial será um lucro imenso para os potenciais compradores. Ou seja, ficamos todos a saber que, segundo Louçã, as acções da Galp só podem valorizar-se. Nenhum banco, nem a própria Galp se atrevem a dizer isso. Nem a CMVM autorizaria. Porém, vindo de tão douta personalidade, acredito piamente. Vou, mesmo, comprar umas acções! Américo Amorim e a Galp agradecem. Não é todos os dias que se tem uma publicidade destas...