Corpo do artigo
O PS criticou há dias, através do Secretariado Nacional, as listas da coligação PSD/CDS às próximas eleições legislativas. Vindo de onde vem, o facto deverá ser lido com normalidade. Já estranho é que sejam os próprios socialistas a criticarem as listas apresentadas pelo PS. Sendo que como se sabe, assim sucedeu abundantemente.
António Costa chegou à liderança apregoando a reconciliação da família socialista. Mas bastaram poucos meses para de uma assentada expurgar da futura composição parlamentar do PS qualquer brisa de veleidade "segurista".
O resultado conta-se em exemplos de contestação por todo o lado. E desde textos subscritos em Viseu apelando à reflexão dos órgãos nacionais do PS quanto ao processo que levou à criação da lista de deputados "sem qualidade", ao chumbo promovido pela comissão política distrital do Porto, sob pretexto da "falta de cobertura territorial", à divisão quase pela metade em Santarém, à demissão de Isabel Coutinho do cargo de presidente do departamento nacional das Mulheres Socialistas, em protesto pela falta de representação nas listas, pela primeira vez na história da organização, viu-se de tudo.
Seria de esperar que com tanto vidro a cobrir o Largo do Rato, a direção do PS não se apressasse a lançar pedras aos telhados dos vizinhos. E de qualquer dos modos, que optasse prioritariamente pela explicação, mínima que fosse, do estado de sítio a que o partido chegou, para além do mais, baqueando nas sondagens contra todas as promessas.
Mas não. A tentação do arremedo político de conveniência foi mais forte. Sendo que não fosse a evidência ostensiva desse facto e certamente que estas notas não teriam aparecido.
Surpreende de qualquer forma que António Costa se recuse a debater no período de campanha eleitoral com Paulo Portas, presidente do CDS, que também vai a votos.
Supostamente e a dar por boa a apreciação, se a lista é frágil, se a lista é má, não teria nada que temer. Sucede que António Costa intui o arraso que provavelmente levaria, se não recusasse o confronto. Afinal, o PS de 2015 é o mesmíssimo PS que até 2011 quase arruinou Portugal. O PS que apesar disso já se acha no direito de voltar ao poder, como se tudo estivesse perdoado, como se tudo estivesse esquecido, como se bastasse assobiar para o ar.
Porque teme, António Costa recusa o debate. As coisas são mesmo assim. O resto são só palavras. E como diz o ditado, palavras leva-as o vento.
*DEPUTADO EUROPEU