<p>Guilherme Pinto, presidente da Câmara de Matosinhos, conseguiu duas coisas notáveis: a primeira, foi manter a Câmara para o PS, ante a ameaça de Narciso Miranda, que prometia abalar a unidade partidária e pôr em causa uma presidência socialista histórica; a segunda, foi ter conseguido, rapidamente, um acordo com Guilherme Aguiar, candidato derrotado do PSD. De aparentemente ingovernável, a Câmara passou a ter a estabilidade que os vereadores do PS e do PSD lhe asseguram.</p>
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O facto não mereceria nota de realce. A primeira preocupação de um executivo é garantir condições de governabilidade e foi isso que fizeram Guilherme Pinto, sabendo o que o esperaria se tivesse de enfrentar uma maioria hostil de vereadores, e Guilherme Aguiar, que sabe o que o concelho pode ganhar se ele e o outro vereador do PSD derem o seu contributo ao lado da maioria.
Porém, trinta e tal anos de democracia não são suficientes para que estas coisas sejam entendidas com normalidade, e Guilherme Aguiar tem à perna uma tentativa de expulsão do partido. Quem o conhece sabe que ele não precisa de pelouros camarários para viver nem das mordomias que eventualmente possam advir do facto de estar, mediante as condições que estabeleceu, com a maioria do PS.
O episódio não abona muito a favor do PSD e, transposto para a problemática nacional, piora até um pouco. O PSD combateu a maioria socialista, nada quis com o Governo entretanto saído das eleições e ainda nem se percebeu o que fará com o Orçamento e, antes disso, com o programa de Governo. Se vingar a tese de Matosinhos, o que é preciso é estar contra. Já no Porto, por exemplo, o PSD pugnou - e obteve - por nova maioria absoluta, deixando por isso perceber que, em seu entender, as maiorias… dependem de quem as tem, o que, em termos democráticos, não é seguramente a atitude mais exemplar.
Tudo isto, afinal, serve para concluir o seguinte: a arrogância não é um capricho apenas de quem manda. Às vezes podemos encontrá-la também em quem perde. E se é verdade que é preciso saber ganhar, nos jogos como na política, não é menos certo que não saber perder é um defeito pesado. E o que a política portuguesa precisa é que os políticos se entendam, isto é, que uns saibam ganhar e outros saibam perder. Essa é a nossa dificuldade.
P. S.: O que na Rússia está a acontecer com a criança que o Estado português tirou a uma família de acolhimento para a entregar à mãe biológica diz muito sobre o estado da nossa Justiça. Um dia mais tarde, Alexandra lamentará certamente os pais que lhe calharam em sorte, mas terá dificuldade em perceber o que levou um juiz a tirar-lhe um lar e a deixá-la como que sozinha no Mundo.