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A aproximação do Natal desperta múltiplas recordações desde as ceias que, à volta da mesa, reúnem os familiares, até ao encanto dos presentes trazidos, para os mais pequenos, pelo Pai Natal ou pelo Menino Jesus. Isto, claro, para os que tiveram ceias e presentes...
A árvore de Natal, segundo me avisava o professor de Moral, não seria muito canónica: a sua tradição vinha das culturas naturalistas do Norte da Europa, não sendo cristã, como acontecia com o presépio. Os presentes, esses, deviam ser simples como os santinhos coloridos que se distribuíam nas igrejas. Mas os meus problemas foram outros quando descobri que os meus pais, ainda que por bondade, me mentiam pois, afinal, eram eles que sorrateiramente punham os presentes nos sapatos que eu deixava na chaminé, aguardando a descida do Menino, enquanto, tão crente quanto ansioso, dormia, sonhava o mais depressa que podia. Talvez tenha sido o último a sabê-lo, a perder esta ilusão e, assim, a partilhar tal perda com os meus amigos. E se o Menino Jesus não era verdade, porque havia de sê-lo o próprio Deus?
Mais sorte tiveram os que acreditavam no Pai Natal…este era apenas um velho simpático, de longas barbas, habitante do Polo Norte e que, por vezes, chegava mesmo a aparecer com um enorme saco às costas e as suas grandes barbas por trás das quais brilhavam os seus olhos bondosos.
E o Pai Natal só prometia trazer as prendas, não pedia para rezarem por ele ou por um Mundo mais justo.
É que depois, apesar do Natal prometer a paz e a bondade, continuava a haver os vizinhos que se desentendiam, os professores que eram injustos, os parentes que morriam ou adoeciam e as guerras que não paravam.
Se calhar, fazia mais sentido a árvore do que o presépio!
Mas a verdade é que muita da magia do Natal chega até nós, quando chega, mais pelas ilusões que herdamos do que pelos sonhos que perdemos.
Ilusões que foram sonhos mas que ficaram, apesar de tudo, connosco.
Um dos dramas quando nos tornamos adultos é o de perdermos muita da capacidade - quantas vezes a inocência - de vivermos com sonhos. Mas, mais grave ainda é nunca se ter usufruído da possibilidade de ter sonhos e de os guardar como tesouros - ou dilemas - dentro de nós.
Quanto mais não seja, vale a pena por isto viver o Natal!

