Sem moralismo e puritanismo, o importante é perceber até que ponto as novas gerações lidam com a liberdade de expressão, com a emancipação e com a igualdade de género.
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Quem está na linha da frente no combate às desigualdades, na batalha pelas alterações climáticas, na luta contra o discurso de ódio e no desenvolvimento de inteligência artificial não pode trocar o bom senso por um shot de excessos ou tornar a humilhação numa marca de tradição académica.
A polémica não é nova. As imagens que vimos nos vídeos e as notícias que lemos sobre a Queima das Fitas também não. Quem não passou por estas atividades, quem não participou nelas, que atire a primeira pedra. Todos teríamos histórias para contar e muitos motivos para nos envergonhar. Há muita euforia, há álcool a passar de boca para boca, há nuvens de fumos e há, agora, nudez gratuita.
A novidade é que, para além do fígado, ainda há quem não tema perder a vergonha e que não saiba que se mostra os seios, num recinto com milhares de pessoas, essa imagem irá parar à Internet. A novidade é que ainda há quem atente contra a dignidade humana e quem a promova pelas redes sociais, num momento em que a sociedade está mais do que nunca a atuar contra o assédio e a violência sexual. A novidade é que, antes de protegerem os amigos, os colegas ou um simples desconhecido da exibição do pudor, se veja nesse momento apenas uma oportunidade para mais um post ou uma story.
O que vimos por estes dias foi uma parte. Beber shots a partir de várias zonas do corpo e beijar em troca de bebidas grátis tornou-se na verdadeira barracada desta Queima, demonstrada pelo pedido da Federação Académica do Porto aos responsáveis dos pontos de venda de bebidas alcoólicas para que apaguem as imagens divulgadas nas redes sociais, sob pena de sanções. E fez bem. A FAP não se escondeu e fez o que neste momento podia ser feito. Aos que protagonizaram e filmaram estes vídeos resta-nos desejar que, no futuro, cometam erros diferentes e não os mesmos.