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A popular expressão “brain rot”, cujo tom hiperbólico sintetiza bem os desafios tecnológicos que vivemos, poderá ser traduzida literalmente por “podridão” ou “apodrecimento cerebral”. Usando da leveza da estrutura inglesa, talvez “cérebro derretido” ou “queimar neurónios” traduzam melhor o que está em causa: o impacto dos estímulos contínuos e da degradação de conteúdos das redes sociais, com crescente passividade dos utilizadores e redução do sentido crítico.
A utilização das redes por menores tem suscitado debate na União Europeia, tendo em conta riscos que vão da desinformação ao assédio e à pornografia. Thomas Regnier, porta-voz da UE para a Soberania Tecnológica, foi rápido a rejeitar legislação comum que proíba o acesso antes dos 15 anos, considerando que a responsabilidade de regulamentar cabe exclusivamente a cada estado-membro.
O debate sobre a eficácia da proibição é legítimo e não há evidências da aplicabilidade de legislação nesse sentido. A questão de fundo é que a relação com a tecnologia exige medidas transversais, mais sociais do que jurídicas. Espanha, por exemplo, percebeu-o bem com o mais recente pacote legislativo em debate, multidisciplinar e que inclui verificação médica obrigatória de sintomas de dependência.
O que está em causa é uma nova forma de vida que afeta o conhecimento e a comunicação, o uso do tempo e, voltamos ao princípio, o uso (ou falta dele) do cérebro. No fundo, estamos em mergulho assustador para um estado de letargia em que deixamos que os algoritmos e a inteligência artificial decidam tudo por nós. Participamos na queda, mas somos incapazes de um gesto para a travar.