A quem importa uma guerra de números?
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O número de alunos sem professor a pelo menos uma disciplina (desde o início do ano letivo) é um critério relativamente recente, usado para avaliar o sistema educativo nacional pela tutela e por alguns sindicatos de professores, obtendo o aproveitamento político costumeiro.
O anúncio público da passada semana relativo ao cumprimento (antecipado) do objetivo do Ministério da Educação, e que foi manchete de um semanário, trouxe à luz da atualidade o problema da escassez de professores. A ganhar densidade ano após ano, qual vírus implacável, prevê-se a contaminação ao resto do país, em breve a viver (mais) uma pandemia à qual as escolas do Centro e Norte não estão imunes, bem como o ensino privado.
Com efeito, parece-me prematuro, e precipitado, atirar foguetes a faltar quase um mês para o final de um período de atividades letivas, devendo ser esse o momento para uma avaliação séria (seja ela qual for), não esquecendo, todavia, que há tempo para piorar o atual cenário, ou de o melhorar, uma vez que existem medidas preconizadas que ainda se encontram “em trânsito”.
Divergentes nos critérios utilizados, e na respetiva quantificação, as discussões (apaixonadas) estão intensas, assistindo-se a uma guerra de números que não interessa às escolas. Estas anseiam pela celebração de um acordo entre o Ministério e os sindicatos representativos dos assistentes técnicos e operacionais (e também técnicos especializados), por mais professores de Educação Especial, pela realização de obras no edificado escolar, pela revisão do estatuto da carreira docente e a atualização do Estatuto do Aluno e Ética Escolar, entre outros constrangimentos que em nada valorizam e dignificam a escola pública.
Aguarde-se um pouco mais para perceber se as 15+2 medidas apresentadas para combater a escassez de professores estão a dar frutos, reclamando-se a 18.ª medida - apoio na estadia dos docentes a lecionar a centenas de quilómetros de suas habituais residências. Assim, diminuir-se-ia substancialmente as consequências do constrangimento, sobretudo em Lisboa e Vale do Tejo (e também no Alentejo e Algarve), e credibilizar-se-iam as opções do Governo que terão, necessariamente, a carreira docente como alvo nos próximos tempos.
É devido um maior acarinhamento e respeito para com estes profissionais, dispensando-se que sejam envolvidos em questões políticas que só à classe respetiva importam. Haja bom senso.