Podemos discutir um novo modelo de organização do trabalho, encontrar nele vantagens e desvantagens, potencialidades e defeitos. Mas, a semana de quatro dias de trabalho começa a desenhar-se e a ganhar forma mais depressa do que parece.
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Não se trata só de encontrar maior produtividade, melhor relação entre a vida profissional e familiar ou caminhar para um menor impacto ambiental. É também uma questão de justiça para muitos trabalhadores que hoje já trabalham mais de doze horas por dia, em vez de as oito contratualizadas.
É também um facto que cada vez mais empresas estão a optar por uma semana de trabalho de quatro dias. Há relatos de experiências de sucesso na Islândia, Japão, Nova Zelândia, Suécia e também em Portugal. Espanha vai aproveitar verbas do Fundo de Recuperação da UE para programas-piloto. E se as empresas o fazem é porque estão a encontrar vantagens no modelo. Não é, certamente, a caridade que move os empresários.
No livro "Sexta-feira é o novo sábado", Pedro Gomes, professor associado de Economia na Universidade de Londres, não tem dúvidas. A semana de trabalho de quatro dias será uma "inovação social, uma melhor forma de organizar a economia no século XXI". Aliás, o docente recorda que, no século XIX, os trabalhadores apenas descansavam aos domingos. O trabalho decorria de segunda-feira a sábado. A semana de cinco dias começou em 1908, nos EUA. "Todas as críticas que hoje ouvimos à redução da semana de trabalho são as mesmas que se ouviam na altura", recorda o professor.
Ao avançar com um pacote legislativo que prevê também o estudo de novos modelos de organização do trabalho, o Governo dá o passo certo. Resta que a agenda do trabalho digno não minimize outras prioridades, tão presentes entre todos os trabalhadores, especialmente jovens.
*Diretor-adjunto