"Olá, somos a Rebelião da Extinção. Roubamos o microfone a António Costa e bombardeamos o primeiro-ministro com aviõezinhos de papel. Estragamos a festa do PS e protestamos contra a construção do novo aeroporto do Montijo". Foi assim que os ambientalistas rebeldes se apresentaram aos portugueses, nas vésperas do aniversário da Revolução. Já com mediatismo garantido, seguiram-se as queixas após terem estado no palco sem autorização lado a lado com o líder do Governo. "Fomos agredidos de forma gratuita". São estes os novos métodos de protesto? Ir à luta, mas depois lamentar as feridas, mesmo que desafiando as autoridades?
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Após boa parte do Mundo ter aplaudido de pé a jovem sueca de 16 anos que falta às aulas, todas as sextas-feiras, em defesa do clima, também lá vamos desculpando estes jovens ativistas receosos das consequências dos seus atos. Faltou-lhes no curso de ativismo uma cadeira sobre as Femen, o movimento feminista que ganhou notoriedade na Europa pelas suas ações despidas e pintadas com frases de protesto no corpo? É que elas faziam estragos, causavam tumultos em eventos com os poderosos Putin e Merkel, mas não se vinham queixar dos "dói-dóis".
Tal como assistimos a uma nova era sindical, com formas de luta mais agressivas e menos politizadas, há movimentos sociais a recorrer a estratégias sem naftalina para demonstrar as suas insatisfações. É um bom sinal. O ativismo de sofá começa finalmente a deixar a preguiça e a sair para a rua. Só que não se interrompe um primeiro-ministro com um "chega para lá", como se fosse apenas um passageiro num autocarro cheio.
Todas as formas de luta por causas nobres devem ser também geridas com nobreza, com respeito, dignidade e bom senso. Não com a mesma arrogância usada para criticar alguém atrás de um ecrã de computador ou telemóvel. Só assim os podemos levar a sério e não vê-los como miúdos que, entre a rebeldia dos verdes anos e a ilusão dos cinco minutos de fama, acham que empurrando o primeiro-ministro vão mudar o Mundo.
* DIRETOR-ADJUNTO