Fiz mais de 1000 km em terras de Espanha e alguns mais em terras de Portugal.
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Andei pelos antigos reinos de Aragão, Navarra e Castela hoje revestidos pelas autonomias políticas de Castela e Leão ou La Rioja.
Em todos os territórios, dos "pueblos" no sopé dos Pirenéus às grandes cidades de Valladolid, Burgos ou Saragoça, os mesmos sinais de uma governação, cacofónica é certo, mas sempre convergente com uma vincada opção pela autonomia que é a palavra moderna para orgulho!
Pude respirá-lo com espantado vigor em mais uma visita à extraordinária Catedral de Burgos, que prepara os seus 800 anos de história com um programa que respira posse, independência, saber tomado em mãos.
A Catedral é um excelente exemplo. Património da humanidade, irmã de Notre Dame ou de Rheims, nem por isso está aprisionada de um qualquer poder central burocrata e atrofiador.
Permeei este circuito com leitura atenta de incursão literária de um amigo sobre Afonso de Portugal, o Conquistador. Escrita vigorosa, que me fez pressentir vocação literária a explorar, o manuscrito em forma de monólogo testamentário do primeiro rei reavivou-me o sentimento de improbabilidade da nossa existência como nação independente e, em razão direta do heroico esforço, o respeito devido a essa autonomia territorial desconcentrada, razão essencial para a vitória dessa improbabilidade.
E eis-me em terras de Portugal. Observadora atenta, visitei de novo vários municípios e de novo perguntei pelas pessoas, pelos projetos, pela margem de manobra.
Para perceber que, resistentes e inconformados, os nossos autarcas continuam espartilhados por um poder central que paralisa projetos durante anos no Tribunal de Contas, sujeita os executivos a processos judiciais se se atreverem a estimular a atividade local ou obriga Montalegre, reconhecida pela produção de batata, a comprar as que usa para as suas escolas a uma anódina central de compras que, provavelmente, por questões de preço, as compra ... a Espanha!
* ANALISTA FINANCEIRA