O tema da regionalização volta a ser equacionado, agora com perspetivas de agenda temporal definida, sendo interessante o apelo efetuado pelo presidente da República aos partidos, para que clarifiquem posições durante a próxima campanha eleitoral. De repente somos todos iniciados no tema, como que se o referendo realizado em 1998 não tivesse existido e o esdrúxulo mapa colocado em consulta, associado a um texto bem mais complexo que qualquer livro de José Saramago.
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A ministra da Coesão Territorial deixou transparecer as dificuldades internas para superar barreiras num conselho de ministros naturalmente centralista, na lógica consolidada de que, nesta matéria, o pior dos governos será sempre o que está. Este modelo conduziu-nos a um país desequilibrado, sem desígnio ou perspetiva de desenvolvimento global. A partir do centralismo esmagador, vão-se multiplicando os tiques do salve-se quem puder, com cada um por si e o mais esperto é quem distribui o jogo.
Na região do Norte de Portugal, cuja pobreza relativa justifica mais de metade dos fundos estruturais atribuídos a Portugal, olhamos para a região autónoma da Galiza, que sendo faz pouco tempo comparativamente bem mais pobre, se transformou hoje em dia num espaço territorial desenvolvido, dispensando praticamente a ajuda europeia. E o que é um facto é que este desenvolvimento teve por base a sua autonomia política regional, que lhe permitiu crescer e enriquecer com base no assumir de responsabilidades próprias na determinação do seu próprio futuro. E não deixa de ser curioso que mesmo os orçamentos das três universidades públicas galegas sejam diretamente financiados pelo governo regional, que lhes permite uma situação bem mais desafogada do que a restrita dotação orçamental atribuída ao conjunto das universidades portuguesas.
A esperança mantém-se, pelo que temos que acreditar que esta janela de oportunidade será verdadeira. Até lá, não seremos, de todo, uma democracia plena.
*Reitor da UTAD