<p>"Estão mesmo dispostos a reconhecer-nos como uma grande potência?". A pergunta do presidente chinês ecoou na Casa Branca. Barack Obama tomou nota. A China acha que Washington a quer, como financeira e estabilizadora do Mundo. Mas não como parceiro exactamente igual. </p>
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Deseja-a mais por conveniência do que por amor.
Claro que a "relação" sino-americana não é uma repetição da ambígua dança entre os EUA e a URSS, durante a Guerra Fria.
Por um lado, se exceptuarmos o caso de Taiwan, não há um verdadeiro conflito militar entre os dois, em nenhum sítio do Mundo. Mesmo na pacificação da tirania oriental da Coreia, Pequim escolheu o seu lado, de forma discreta, eficaz, implacável.
Mas chineses e americanos são rivais, em muitos pontos do globo. E Washington sabe que, com grandes custos e sacrifícios (no meio ambiente, no abismo entre ricos e pobres), a China conseguiu uma economia poderosa e uma grande liquidez financeira, o que faz falta na grande América.
E há - ainda - um mar de separação, em torno das liberdades e garantias. A lembrar o diálogo de surdos com Moscovo. Na anedota conhecida, Kennedy lembrava a Krushev "no meu país, pode criticar-se o presidente dos Estados Unidos". Resposta do soviético: "no meu país, também se pode criticar o presidente dos Estados Unidos".
Mas até aqui os chineses querem andar. Não gostam de ser empurrados, mas sabem que precisam de mudar.
É que a supressão da dissidência causa mais Tienamens à espreita.
O medo da dissolução não pode justificar, para sempre, a suspeição do seu próprio povo. Veja-se o caso de Liu Xiaobo: o Nobel é um chinês patriota, não fugiu do país, e paga os seus alegados pecados na prisão.
Quanto mais cedo Beijing perceber que esta pedra no sapato atrasa o "progresso" e o "bem-estar", melhor.
Daí a esperança latente na frase críptica (e crítica) de Hu Jintao: "temos ainda muitíssimo a fazer, no capítulo dos direitos humanos".
A admissão é já um passo.
P.S.: Se sufragar no domingo, voto Cavaco Silva.
Gostava de poder escolher Manuel Alegre: como Torga, um poeta das raízes. Mas não posso. Com o andar da campanha, o vate foi vitimado pelas contradições da sua base de apoio. Perdeu frescura e independência. Haverá, certamente, outras batalhas.
E parto para a urna, cantando e rindo?
Precisam de perguntar?