Durante dois anos, a comunicação social, sobretudo a audiovisual, deu os máximos para ocultar o líder do CDS. Em escassos dias, porém, o país pôde conhecer a única "novidade" deste acto eleitoral, precisamente Francisco Rodrigues dos Santos.
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Não tanto porque tivesse obtido a benevolência do mandarinato dos "comentadores", mas pela autenticidade e preparação que revelou, sem nunca ter perdido a jovialidade e a boa disposição. Curiosamente, os ex-"novos partidos" apareceram gastos pela demagogia (todos), pelo colorido fácil e ambíguo (IL e PAN) e pelo trauliteirismo deslocado (Chega).
Quanto à disputa pelo lugar de chefe do Governo, Costa e Rio mereceram a honra de seis canais em simultâneo - três generalistas e três do cabo - como se de uma e única televisão norte-coreana se tratasse. Precederam o debate de um cortejo de reportagens e depoimentos dignos daquelas xaropadas com que brindam os espectadores quando há jogos de bola "decisivos".
Um canal chegou, até, ao ponto vergonhoso de "decidir" quem é que ia "vencer" o debate para, depois de ele se ter realizado, ter sido forçado a arranjar rapidamente outra conclusão. Como "uma imagem vale mais que mil palavras", desse debate "decisivo" acabou por ficar um gesto da maior frivolidade política.
Às tantas, como se fosse tirar debaixo da mesa um pacote de doces regionais ou um leitão devidamente acomodado da Bairrada, António Costa exibiu, perante as câmaras e os moderadores, um caderno A4, azul, com umas argolas de plástico. Lia-se na capa do caderninho "Orçamento de Estado para 2022", assim como quem não quer a coisa.
Não pegou. Vai daí, mal terminado o debate que tinha perdido clamorosamente para Rio, Costa imortalizou o caderninho azul que colocou à frente do rosto. Sim, o Orçamento chumbado no Parlamento, e causa directa das eleições do dia 30, era apenas o que Costa tinha para mostrar e defender.
Qual Teodorico Raposo diante da Senhora Dona Maria do Patrocínio, a Titi, António Costa desvendou-nos a sua "relíquia". Sabe-se o que aconteceu à personagem de Eça de Queiroz, mais conhecida por "Raposão", quando trocou a alegada coroa de espinhos original, recolhida de uma árvore na Terra Santa, por uma camisa de noite usada pela amante Mary em Alexandria. "Paris fez a Revolução, Londres deu Shakespeare, Viena deu Mozart, Berlim deu Kant, Lisboa deu-nos a nós". E a um Raposão.
*Jurista
(O autor escreve segundo a anterior ortografia)