As universidades e politécnicos preparam-se para um ano letivo muito exigente. Ao contrário do pré-escolar e dos ensinos Básico e Secundário, as instituições de ensino Superior contam com uma apreciável autonomia que possibilita uma gestão mais flexível e com um património imóvel mais alargado que proporciona outras condições para multiplicar salas de aula. Têm ainda um saber disciplinar cruzado que as habilita a tomar decisões mais refletidas. Por isso, não se desculparão erros grosseiros que potenciem novos surtos.
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Quando os reitores ainda hesitavam entre modelos mistos, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior defendia que as aulas deveriam ser maioritariamente presenciais, deixando o ensino remoto com uma função mais adjacente. Tem razão Manuel Heitor em valorizar o contacto físico entre professores e alunos. No entanto, o ministro tem esquecido de salientar que as universidades devem ser lugares exemplares de combate à pandemia. Uma educação superior exige sempre modos de prevenção ainda mais apurados.
Nas instituições universitárias, as reitorias vão criando planos de contingência, obrigatoriamente genéricos que, por sua vez, seguem orientações da Direção-Geral da Saúde que, neste período, têm sido excessivamente vagas. Ora, se estes documentos salvaguardam posições oficiais, podem ficar muito aquém daquilo que é a vida de todos os dias da academia, cheia de variadas gentes e modos diversos de estar. Por isso, cada universidade tem de ser exímia na divisão dos cursos por turnos, na preparação de salas de aula amplas, arejadas e devidamente higienizadas, no desencontro de horários, no equilíbrio da população estudantil no campus, na gestão dos bares e das cantinas, na redução de espaços de convívio, no diálogo com as associações académicas no sentido se se conterem as praxes.... Houve mais de seis meses para preparar tudo isto. Por isso, aqui chegados, esperam-se respostas eficazes para tempos de enorme incerteza.
Em entrevista ao "Expresso" desta semana, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes afirmava que "a segunda vaga pode ser evitada", mas isso depende do comportamento de todos. A esse nível, a escola, em todos os graus de ensino, tem uma enorme centralidade. No que diz respeito às universidades, reitores, diretores de faculdades e responsáveis por projetos de ensino têm obrigação de olhar não apenas para orientações oficiais, mas, acima de tudo, para os contextos que têm a seu cargo. Estamos em tempo de combate. É preciso proteger todos os soldados. Custe o que custar.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho