Este Campeonato do Mundo de futebol é o primeiro sujeito à exigência científica de existirem paragens destinadas a combater a desidratação dos atletas pela ingestão de líquidos. É todo um programa que temos pela frente a caminho de um paradigma ainda mais elevado da alta competição. Sim, o futebol poderá guardar o sortilégio social de promover a estrela o puto com ranho no nariz nascido num qualquer subúrbio de uma qualquer metrópole de um país de muito ricos e muito pobres, mas está condenado à globalização da ciência. Por isso, mais tarde ou cedo, é provável que vejamos a seleção dos EUA campeã, uma vez que aprendeu a correr em função da natureza deste jogo, sem lhe pesar sobre os ombros qualquer herança de medos e tabus históricos e, como é apanágio da nação, com mais este domínio desportivo sujeito aos protocolos e métodos científicos estabelecidos para a formação de grupos de elite saudáveis, física e mentalmente.
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Neste aspeto, quem seguiu o Bélgica-EUA, pôde assistir a um final de jogo - com prolongamento - em que ambas as seleções carregaram uma sobre a outra sem descanso, ao maravilhoso detalhe de um pontapé livre executado pelos norte-americanos através de uma jogada de laboratório muito elaborada, a qual só não resultou no golo do empate por muito pouco. É verdade que foi a seleção belga a seguir para os quartos de final, mas desse lance - apenas possível graças a uma enorme saúde física e mental, após mais de 100 minutos intensíssimos -, fiquei com a convicção de que os EUA estão a reunir as últimas condições para, também no futebol, serem campeões do Mundo. Faltou-lhes até agora o impulso de uma adaptação do modelo de jogo a mais um ou dois intervalos, que respondam melhor ao modelo de negócio das suas televisões. Mas até esse passo é possível agora que, à conta de calor e humidade extremos, os árbitros passaram a poder parar o jogo sempre que acharem necessário à hidratação dos atletas.
De resto, este Bélgica-EUA é, até agora, para mim, o jogo dos jogos deste Mundial. Pelo espetáculo que foi, mas também por ter sido protagonizado por uma seleção da Europa sem estrelas demasiado cintilantes, mas que derrubou essa ideia preconcebida de que este campeonato seria, pelas condições climatéricas, dominado pelas seleções da América.
Contra um outro preconceito, o da fé messiânica em atletas de eleição, mesmo que a pé-coxinho, mais forte que os protocolos científicos - como os da adaptação de atletas a ambientes e climas estranhos -, fala alto e bom som o futebol das seleções que disputam o acesso às meias-finais. Num saudável empate geográfico de quatro europeias e quatro americanas, com sistemas e modelos de jogo diferenciados, com e sem estrelas cintilantes, mas uma condição em comum que não é técnica, nem tática: é saúde de ferro.