A saúde dos oceanos: o desafio que Portugal não pode ignorar
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Os oceanos - ou melhor, o oceano global, já que estão todos interligados pelos ciclos naturais do planeta - cobrem 71% da superfície terrestre, o que torna curioso chamarmos o nosso planeta de "Terra".
Fornecem à humanidade benefícios inestimáveis. Regulam o clima em articulação com a atmosfera e atuam como grandes sequestradores do dióxido de carbono emitido pelas atividades humanas, ajudando a travar o efeito de estufa. As microalgas, invisíveis a olho nu, são o verdadeiro pulmão do planeta, responsáveis por mais de metade do oxigénio que respiramos. O oceano é também uma fonte de recursos essenciais: alimentos - em especial pescado -, energias renováveis, minerais valiosos como o petróleo e o gás natural, e compostos biológicos que hoje representam esperança na cura de várias doenças.
Mas a saúde dos oceanos está claramente ameaçada. As alterações climáticas tornam-nos mais quentes, mais ácidos e mais pobres em oxigénio. O degelo acelera a erosão costeira e pode alterar padrões de circulação com consequências globais. A poluição de origem humana liberta compostos que se acumulam nos ecossistemas e entram nas cadeias alimentares, afetando a vida marinha e a saúde humana. A sobrepesca, a pesca ilegal e a destruição de habitats costeiros - pela construção, turismo e aquacultura - fragilizam a biodiversidade. O ruído e o tráfego marítimo perturbam a comunicação e navegação de mamíferos marinhos, desequilibrando o oceano que conhecemos.
Num país "à beira-mar plantado", o mar é central na história, na economia, na cultura e na estratégia nacional. Portugal possui uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas da Europa, porta atlântica de ligação entre continentes. A cultura, a gastronomia e as tradições refletem esta identidade marítima. A pesca e a aquacultura são fundamentais num país com elevado consumo de pescado. O transporte marítimo, o turismo náutico e as energias renováveis offshore representam oportunidades económicas decisivas. A biotecnologia marinha e a investigação científica avançam rapidamente, mas exigem financiamento estável e visão estratégica.
A investigação sobre o mar envolve várias áreas do conhecimento, desde o estudo dos ecossistemas marinhos, o desenvolvimento sustentável da pesca e da aquacultura, a monitorização ambiental e a conservação da biodiversidade. Sustentado na visão One Health, o ICBAS cruza estes saberes para procurar responder de forma integrada aos desafios atuais dos oceanos e aos que se avizinham.
Para Portugal, o mar é mais do que um recurso: é herança, oportunidade e futuro. E, perante a crescente fragilidade da saúde dos oceanos, prevenir não é apenas prudente - é urgente.

