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É cada vez mais evidente que as respostas em saúde envolvem áreas e abordagens que vão muito para além das questões clínicas e da centralidade no hospital, ainda que por muitas e variadas razões o foco, as preocupações e mesmo os orçamentos não reflitam esta realidade.
Parece, no entanto, igualmente evidente que os resultados dos sistemas de saúde e, em última análise, os resultados da nossa saúde estão, e cada vez estarão mais, dependentes desta visão de conjunto e da sua gestão de forma integrada e articulada.
A sensibilidade e a óbvia atração que o tratamento da doença sempre suscita têm tido aqui um efeito centrípeto, que importa contrariar, começando a serem visíveis sinais animadores nesse sentido.
Todos os dias vamos ouvindo que muitas camas dos hospitais públicos estão ocupadas por pessoas que tendo alta, a mesma não se concretiza porque não têm quem as vá buscar, não têm para onde ir. Este é um dos exemplos mais visíveis e mais óbvios da aparente ausência da referida articulação, mas será só a pontinha do grande icebergue da pobreza, da pobreza envergonhada e de tantas outras realidades a que, por simplificação hipócrita, chamamos problemas sociais, os quais são determinantes para o desempenho da saúde.
Num outro registo, começa também a ganhar tração a perceção por parte de todos nós de que grande parte da carga de doença que nos toca decorre dos estilos de vida que adotamos: do que comemos ou não comemos, do exercício físico que fazemos ou não fazemos, ou da relação que temos com o álcool, com o tabaco e com outras substâncias. Apesar de nos últimos anos estes temas terem ganhado crescente notoriedade e alguma atenção, um enorme trabalho está pela frente. Felizmente e com reconhecido sucesso, novos atores, fora da tribo da saúde, estão em crescendo a envolver-se nestas temáticas, sendo de destacar o poder local e, de uma forma mais discreta, mas não menos empenhada, as empresas no âmbito da sua função social.
Boa parte destas dinâmicas cabem no conceito de promoção da saúde e prevenção da doença, cujo grande desafio no imediato será o de sermos capazes de passar da teoria e das proclamações, à prática endogeneizada e rotinada.
Uma nota ainda para uma tendência que com diferentes expressões tem vindo nos últimos anos a ganhar tração. Refiro-me às iniciativas que por opção ou consequência retiram doentes dos hospitais, como são o caso da telemedicina, da hospitalização domiciliária e, em boa medida, desse exército silencioso, fundamental para certas tipologias de respostas, a que costumamos chamar cuidadores informais.
Quase todas estas externalidades não são novidade. O que mudou e está a mudar é o quadro disruptivo de novas oportunidades e de novas portas para a sua boa, e sobretudo eficiente, concretização no terreno, proporcionado pelos avanços fantásticos que a tecnologia não pára de nos trazer.
Um sobressalto (cívico, de paradigmas, de gestão e na relação cidadão-sistema) tem todas as condições para acontecer e vai ter mesmo de acontecer. Porque continuar a tratar um tema com esta dimensão e importância para a nossa felicidade e da dos que nos vão suceder, como é a saúde, com pequenos ajustes e pequenos remendos, não vai e não está a dar resultado.
Começa a ganhar tração a perceção por parte de todos nós de que grande parte da carga de doença que nos toca decorre dos estilos de vida que adotamos.