Na área de proximidade ao Hospital das Forças Armadas, na zona da Boavista, alguém estaciona tranquilamente a viatura num lugar disponível e dirige-se a um jantar de Natal a decorrer em local próximo. Quando regressa, ainda antes das 23 horas, depara-se com um dos vidros da viatura partido, os bancos traseiros rebatidos, o interior vandalizado e vários objetos deixados na mala roubados. A sensação de frustração e incredulidade são enormes, com um sentimento de vazio e a convicção que de pouco servirá a apresentação de uma queixa formal na Polícia. Refeito da surpresa desagradável, coloca os bancos na posição normal e dirige-se para casa. Entra na Rotunda da Boavista, pára no semáforo do cruzamento com a Rua 5 de Outubro e, de repente, houve as sirenes de um carro da Polícia a perseguir uma viatura em fuga desenfreada e perigosa, que passa o sinal vermelho, não sem antes abalroar vários veículos, incluindo o seu próprio, felizmente que apenas de forma ligeira. Não estamos a descrever o guião de um filme, apenas algo que aconteceu na noite da passada quarta-feira, numa das zonas mais nobres da minha cidade do Porto.
Muito mais do que as consequências materiais do que acaba de ser descrito, preocupam-me os efeitos deste tipo de ocorrências na perceção individual das situações e a amplificação da sensação de insegurança, que funciona de forma independente de números e estatísticas, porque se interioriza como um sentimento em cada um de nós enquanto pessoa. Por isso mesmo é cada vez mais importante que as questões da segurança pública, um dos valores fundamentais que o Estado nos deve assegurar no dia a dia, sejam discutidas abertamente, sem tabus e preconceitos. Não fugindo a este incómodo crescente que nos assola de forma coletiva, a partir dos incidentes individuais.
Porque se não tivermos a coragem de combater com autoridade e firmeza a multiplicação destes fenómenos, corremos o sério risco de ter de dar razão aos que nos garantem resolver problemas complexos de forma simples.

