Conheço um governante em exercício que, quando chegou ao gabinete, partiu do pressuposto de que os funcionários herdados eram competentes e pessoas de bem. Seguramente que o seu caso não é um dos que o Tribunal de Contas tipifica como de "falta de transparência na divulgação de informação relativa à despesa".
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Quero com isto dizer que, neste como em anteriores governos, nem todos os ministros e secretários de Estado subtraem informação pedida pelo Tribunal de Contas com o objetivo de verificar que as normas de contratação e remuneração, bem como a sua divulgação, são escrupulosamente cumpridas.
Feita a ressalva todos sabemos que há problemas graves na nossa administração pública que, até hoje, não conseguimos solucionar, apesar de o próprio Tribunal de Contas classificar de positivas as alterações introduzidas em 2011 às suas próprias recomendações de 2007, ainda que essas medidas legislativas não sejam "suficientes".
Em causa está a questão da contenção das despesas dos gabinetes e a sobretudo a transparência das suas composições em recursos humanos adequados e folhas salariais compatíveis com as competências e funções exercidas.
Sempre que em causa está a transparência e o rigor, conforme cavemos mais ou menos fundo as causas que aparecem são três: a falta de neutralidade da administração pública, o imperativo de fidelidade do sistema político, as influências de redes associativas degeneradas da sua natureza original.
A inexistência de uma administração que apenas se preocupe em zelar pelo interesse público casa em regime de comunhão de bens com o imperativo de fidelidade que faz os governantes sentirem-se mais cómodos e muito mais protegidos dos olhares da opinião pública.
Em concubinato não menos perfeito com esse regime matrimonial de partidos e funcionários da coisa pública, redes de e favorecimento próprio, baseadas em associativismos degenerativos, sobrevivem aos sobressaltos cívicos e continuam a designar os seus agentes, dando a sensação, pelo menos aos mais incautos, de que até contribuem para um sadio grau de despartidarização da máquina burocrática.
Dir-se-á que estes são custos da democracia. Que, como sabemos, é o melhor regime político à face da Terra mas também o mais caro.
Porém, esta constatação deve merecer mais que um encolher de ombros sob pena destes (e outros) ditos custos da democracia crescerem a ponto de fazerem degenerar o regime. E colocar em causa a sua essência: a prossecução do bem público. Que não é um dado adquirido só porque temos eleições: como na economia, também na política a selva está mais próxima do que podemos imaginar.