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Estamos em tempo de eleições. Este ano tivemos já as eleições legislativas e vamos ter, ainda, as eleições autárquicas e presidenciais. Inevitavelmente, o perfil de um candidato apresenta-se sempre como decisivo para a escolha solitária, do eleitor ou da eleitora, na urna. Uma das vantagens da democracia é a possibilidade de qualquer cidadão acreditar que pode ter a ambição de se candidatar e de ser o escolhido.
Quer nas eleições autárquicas quer nas presidenciais, vemos já o efeito positivo dos candidatos independentes. São os candidatos que se apresentam, em regra, numa vocação crítica contra a vida partidária e, quase sempre, desiludidos por não terem tido qualquer oportunidade na vida política.
É evidente que este fenómeno tem menos expressão nas eleições legislativas, onde o perfil dos independentes conta muito pouco para os partidos. Em regra, entra um ou dois independentes, geralmente porque tiveram já uma prestação de apoio a um dos partidos ou então são amigos de alguém com força no respetivo aparelho. Nas eleições legislativas, graças ao seu sucesso, muitos desses “independentes” vieram a ser acolhidos no Chega, que tem sido uma espécie de albergue espanhol com tendência para continuar a crescer.
A questão que se pode agora colocar é se todos estes candidatos reúnem o perfil adequado para a função a que se candidatam? No caso das eleições autárquicas, o exemplo do Porto não deixa de ser um caso de estudo. São já doze os que anseiam governar a cidade. Existirão assim tantas alternativas e diferenças de projetos que justifiquem esta oferta? Parece-nos que não, antes uma firme convicção que se querem mostrar para, no final, procurarem ter um lugar à mesa da solução. Esta pluralidade só será importante se emergir uma solução que seja portadora de uma oportunidade de governo estável para a cidade.
Nas presidenciais, o problema não deixa de se colocar de uma forma interessante. O PSD com o seu candidato e o PS, provavelmente, a ter de aceitar um candidato que não quer. De fora do sistema vem um candidato que poderá trazer ainda mais surpresa.
Resta dizer que o perfil de um bom candidato tem de assentar em algumas características decisivas. A primeira, ser um líder com as suas próprias ideias, que saiba ouvir e depois decidir. Ser alguém que compreenda a solidão do poder, que perceba que os amigos não são para as ocasiões, que os eleitores são cada vez mais exigentes e críticos. Sinal decisivo terá de ser alguém que compreenda a diferença entre o interesse partidário, o interesse egoísta e o interesse nacional.
Afinal, um homem ou mulher que compreenda a velha máxima de Max Weber: existem duas maneiras de fazer política: por vocação ou por profissão. Eu prefiro os que fazem por vocação porque nunca é um sacrifício para eles.