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É muito triste ler os comentários nas redes sociais sobre a flotilha humanitária que pretendia chegar à Faixa de Gaza. Como também é desolador que se tente reduzir esta ação a uma questão de Esquerda e de Direita. Não devia ser. Não é.
A solidariedade não tem partido. Não tem fronteiras ideológicas. O que está em causa não é um debate político ou académico. O que importa é a vida. A vida de pessoas reais. De famílias, de crianças, de idosos, que todos os dias olham para a morte de frente.
Minimiza-se também a ajuda transportada pela flotilha. Uns afirmam que é pouca. Outros argumentam que os organizadores da viagem podiam ter escolhido outra via para fazer chegar a ajuda humanitária. Mas esses analistas, comentadores, políticos esquecem que, para quem está em Gaza, até o mínimo dos mínimos tem um valor imensurável. "Juro por Deus, eu aceitaria a morte se isso significasse poder levar um único pacote de farinha para os meus filhos, para que eles pudessem comer", diz um homem de Gaza, citado pelo serviço de notícias em árabe da BBC.
A bordo não estava apenas a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua. Nem apenas figuras públicas. Médicos, advogados, religiosos e deputados europeus juntaram-se a esta missão que reúne 44 países.
De alguma forma, a flotilha cumpriu um dos seus objetivos. Aumentou a pressão política sobre a comunidade internacional, contribuindo para travar a banalização do genocídio que todos testemunhamos.
Ter a capacidade de olhar para além das divisões e perceber que, quando alguém estende a mão para ajudar outro, o que ali acontece é maior do que qualquer rótulo político. É simplesmente humano.