Nos próximos dias, vamos ouvir falar mais de terrorismo. Ou da memória que temos disso. Quarta-feira, começa em Paris um dos julgamentos mais importantes do nosso tempo.
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São 20 os acusados pelo atentado que, a 13 de novembro de 2015, provocou a morte a 130 pessoas, fez centenas de feridos e pôs uma nação de rastos devido aos ataques terroristas ao Bataclan, ao Stade de France e a vários cafés parisienses. Na próxima semana, a 11 de setembro, os EUA lembrarão os atentados às torres gémeas de 2001.
A pandemia covid-19 quase nos fez esquecer os riscos do terrorismo e o estado de alerta que o Ocidente tem em relação a células que vão mantendo a sua atividade, cruzando várias geografias. Os recentes acontecimentos no Afeganistão reagendaram este tópico e os atentados no aeroporto de Cabul a 26 de agosto mostraram que os nossos piores temores podem estar muito aquém de uma realidade temerária. A partir de 8 de setembro, o julgamento dos atentados de 2015 em França vai ampliar as notícias durante muito tempo, até porque se prevê que as sessões se prolonguem por nove duros meses, numa sala do Palácio de Justiça de Paris propositadamente construída para o efeito.
Na edição desta semana dedicada ao assunto, L"OBS considera que se trata de um processo para a História. Num artigo intitulado "Os últimos segredos do comando da morte", a revista explica-nos que este atentado foi preparado durante longos meses em vários países por uma célula terrorista composta por 30 elementos, comandada a partir da Síria. Impressiona o grau de pormenor das deslocações dos autores dos atentados, meses antes do sucedido. Nesse tempo, fizeram várias viagens entre diferentes países (França, Bélgica, Turquia, Síria...); radicalizaram novos membros e, acima de tudo, gizaram um cirúrgico plano de ataque. Nos vários artigos que a revista publica, transparece uma vontade dos franceses de que se faça justiça, sem, contudo, dar espaço ao ódio.
É difícil neutralizar sentimentos de islamofobia. Que o digam os muçulmanos que cresceram nos EUA no pós-11 de setembro. Este é o ângulo da capa desta semana da Newsweek: a dor da discriminação empurrou uma geração mais nova para uma maior intervenção cívica. E ei-los agora a chegar a lugares de considerável visibilidade: cargos políticos, pivots de programas de informação, protagonistas de séries de ficção de grande audiência. No entanto, não apagarão facilmente as marcas do medo que sentimos face a uma ameaça que hoje se reacende.
*Prof. associada com agregação da UMinho