É uma frase clássica, sempre que sai uma sondagem e um político é confrontado com o resultado: a única sondagem que conta é a que resulta dos votos nas urnas. Repetitivo, mas verdadeiro.
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As sondagens não são resultados, antes meras estimativas. São como as previsões meteorológicas, ou seja, um instrumento útil se olharmos para ele não como uma garantia absoluta de que o dia seguinte será de sol ou de chuva, mas como um indicador de tendências sobre o que pensa a opinião pública sobre o processo político. No caso do estudo da Universidade Católica que o JN publicou nos últimos dias, é isso que se faz: avaliações sobre o processo político, que ajudam a explicar os resultados eleitorais propriamente ditos. É por ser muito mais do que uma tentativa de adivinhar eleições que é possível dizer que as conclusões são negativas para o PSD.
Se tivéssemos apenas em conta a estimativa de resultados eleitorais, a Direita não teria razões para grandes deceções: PSD e CDS perdem dois pontos e meio relativamente às legislativas. Não é brilhante, mas também não é catastrófico. O problema é quando se olha não para os resultados, mas para as avaliações: só 16% dos portugueses acreditam que o Governo cai antes do final do mandato; apenas 18% estão certos de que a Oposição faria melhor; escassos 10% dizem que este Governo é pior do que o anterior; 25% que o desempenho do Governo atual é mau.
O que isto quer dizer é que se o PSD alcança uma estimativa de 30%, o seu discurso político atual tem uma adesão bastante inferior. O ministro Augusto Santos Silva dizia, em entrevista ao JN, que a coerência de Pedro Passos Coelho é "impressionante". Acontece que isso não é um elogio, e ainda menos uma garantia de sucesso político. Porque a coerência de Passos é também um anacronismo. O atual líder do PSD mantém o discurso do passado, ignorando que o contexto mudou. Ainda que a comparação possa parecer excessiva, faz lembrar os elogios à coerência de Álvaro Cunhal por parte de quem contestava e combatia todas e cada uma das suas convicções políticas. É um presente envenenado.
Acresce que o PSD não é um partido de protesto, é um partido de poder. Na memória política, ainda perdura a frase que condicionou as decisões de Passos em 2011: "ou há eleições no país, ou há eleições no partido", exemplo paradigmático do apetite pelo poder, sem o qual o PSD (tal como o PS) não teria grande razão de ser. E até nesta matéria o barómetro dá um pequeno empurrão: 42% dos portugueses (entre os eleitores do PSD, o resultado é semelhante) acham que o partido ficaria melhor com Rui Rio (só 11% acham que ficaria pior). Não é difícil prever, somando todas estas linhas, que Passos Coelho corre sérios riscos de ser apeado. Embora seja necessário ressalvar que só há uma coisa menos fiável que as sondagens: as previsões dos analistas.
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